24/03/2017 - 10:25 | última atualização em 24/03/2017 - 10:27

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VLT para pela sexta vez em 6 meses por causa da violência

jornal O Globo

A linha 1 do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) deixou de circular ontem de manhã por cerca de duas horas por causa de um tiroteio entre policiais militares e traficantes no Morro da Providência, na Gamboa. Foi a sexta interrupção do transporte devido à violência desde outubro. A operação no trecho entre as estações São Diogo e Aeroporto Santos Dumont foi suspensa às 9h31m e só foi totalmente restabelecida às 11h27m. Tiros teriam atingido o Palácio Duque de Caxias, onde fica o Comando Militar do Leste.
 
Com os bondes parados, as estações ficaram cheias de passageiros. A esteticista Maria Helena Marins, de 32 anos, disse ter ficado assustada ao ouvir tiros quando seguia em direção à estação do VLT próximo ao Armazém 3 do Cais do Porto.
 
"Desde que a região começou a ser revitalizada, pensei que situações como esta não fossem acontecer mais. E não é a primeira vez. É muito triste ver que os turistas são recebidos desta forma no Porto, uma das principais portas de entradas da cidade. E parece que ninguém pode fazer nada", disse.
 
O estudante Brendo Britto, de 18 anos, esperou por cerca de uma hora e 40 minutos na estação Navios até conseguir partir em direção à Rodoviária Novo Rio. Ele lamentou que a revitalização da região não tenha sido acompanhada do aumento da segurança: "É um velho incômodo. íamos fazer manutenção elétrica no prédio do INCA (Instituto Nacional do Câncer), mas atrasou tudo por causa dessa violência que não acaba."
 
Consumo de drogas e assaltos
 
Já o engenheiro Édson Fonseca Gouveia, de 49 anos, lamentou a insegurança numa região que se transformou em atração turística. Ele trabalha na instalação de elevadores num prédio novo que está sendo construído na Rua Barão de Tefé, próximo à Avenida Rodrigues Alves.
 
"Acho que tendo a comunidade ali é complicado. Aqui você pode ver pessoas consumindo drogas à luz do dia. Se virar na Rua Sacadura Cabral, vai ver pessoas de moto descendo na contramão, e a polícia não pode fazer nada. É uma pena. Quando chega um transatlântico, costumo orientar os turistas a não passearem por esta região. Há cerca de um mês, um colega de trabalho foi assaltado. Levaram o celular e a carteira dele. Muita gente quer conhecer a Cidade do Samba, que é uma atração turística, e tem medo. Mas vale ressaltar que a quantidade de policiais na região é muito grande, aumentou muito", disse Fonseca.
 
O auxiliar administrativo Rodrigo Santos, de 21 anos, contou que estava na Avenida Rodrigues.Alves quando ouviu os tiros: "Era por volta das 8h. E foi assim até as 10h30m. Não tem como escapar. É bom ficar longe e esperar terminar."
 
tiroteio ocorreu durante uma operação do Batalhão de Choque na Providência, que fica perto da Central do Brasil. O objetivo, segundo a PM, era reprimir os roubos de carros e motos. Também houve blitzes nas ruas Sacadura Cabral e Camerino e na Avenida Venezuela, todas na mesma região. A ambulante Carolina Alves, de 25 anos, que trabalha na Central do Brasil, disse que pelo menos três camelôs ficaram feridos por balas perdidas. Os casos, no entanto, não foram confirmados pela polícia.
 
"Eu vi um ambulante que tem problema numa perna ser atingido. Então, saí correndo e vim para perto do Comando Militar", disse.
 
A Providência tem uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) desde abril de 2010. O policiamento comunitário, no entanto, não tem impedido a ação de traficantes até mesmo no Terminal Rodoviário Américo Fontenelle, que fica entre a Central do Brasil e a favela.
 
Também houve confronto na manhã de ontem em outra comunidade com UPP, a Cidade de Deus. Foi durante uma operação da Polícia Civil em que quatro pessoas ficaram feridas. Elas foram transferidas para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra. Moradores da favela chegaram a interditar os dois sentidos da Estrada Marechal Miguel Salazar Mendes de Moraes, a principal do bairro, para protestar contra a ação policial.
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