09/04/2012 - 15:23

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Violência faz outra vítima em Niterói

O Globo

A violência que vem assustando moradores de Niterói fez mais uma vítima: o fisioterapeuta Fabiano de Almeida, de 35 anos, que foi baleado na cabeça sábado à noite, durante um assalto na Estrada Velha de Itaipu, na Região Oceânica. Ele e a namorada, Joana Souza Pereira, seguiam de moto para Piratininga quando, por volta das 19h30, foram abordados por dois assaltantes. Os bandidos também estavam numa motocicleta. De acordo com Joana, um dos criminosos atirou no fisioterapeuta antes mesmo de qualquer reação. O casal caiu e os bandidos levaram a moto, uma Honda CB-300. Até a noite de ontem, Fabiano continuava internado no Hospital Azevedo Lima, no Fonseca. Segundo médicos, seu quadro é estável. Ele corre o risco de ficar cego.
 
O crime ocorreu no mesmo dia em que o estudante de administração Jorge Luiz Carvalho, de 24 anos, foi enterrado em Niterói. O universitário foi baleado no pescoço na madrugada do domingo retrasado, numa tentativa de assalto na porta do prédio onde morava, na Rua Justina Bulhões, no Ingá. Assim como no roubo de sábado, Jorge Luiz foi atacado por uma dupla, que não chegou a levar o veículo.
 
A namorada de Fabiano suspeita que eles foram seguidos pelos bandidos desde o sinal de trânsito localizado no fim da Estrada da Cachoeira, que dá acesso à Estrada Velha de Itaipu.
 
"Passamos pelo sinal e eles vieram atrás. Acho que pensaram que estávamos fugindo. Eles nem esperaram a gente parar para fazer o disparo", contou Joana, acrescentando que o crime aconteceu num trecho mais deserto da estrada. "Ele (Fabiano) caiu deitado, e continuou consciente. Eu só conseguia gritar. Fiquei em estado de choque".
 
A dupla, segundo ela, estava numa moto amarela e aparentava ter menos de 20 anos. Joana mora em Niterói, no bairro de Piratininga, há apenas três meses, embora tenha nascido na cidade. Já o fisioterapeuta reside em Angra dos Reis e estava no município para passar a Semana Santa com a namorada, que, na queda da moto, sofreu somente ferimentos leves em uma mão.
 
Os dois tinham passeado pelo Parque da Cidade e pela orla de São Francisco, na Zona Sul de Niterói. A namorada contou que Fabiano é deficiente auditivo, e que interpreta a fala das pessoas por leitura labial. Joana teme que, agora, ele perca a visão.
 
Roubos são frequentes no local do crime
 
Um dos acessos mais utilizados para quem vai da Zona Sul para a Região Oceânica, a Estrada Velha de Itaipu é considerada um local perigoso, especialmente à noite. Bombeiros que socorreram o casal na noite de sábado contaram para parentes de Joana que o trecho foi, recentemente, palco de um arrastão, e que bandidos teriam até mesmo usado uma corda para derrubar e assaltar motociclistas.
 
Joana diz que nunca se sentiu insegura em Niterói, até porque está há poucos meses na cidade. Porém, ela acredita que a violência tenha relação com uma migração de bandidos de áreas pacificadas no Rio.
"Já que os bandidos foram para outros lugares, que as autoridades façam algo nessas comunidades, que tentem integrar essas pessoas à sociedade", sugere.
 
Universitários preparam um protesto contra a violência na cidade para o próximo dia 21, às 14h, na Praia de Icaraí. O movimento "Niterói quer paz", conforme afirmam os organizadores, pretende mobilizar a sociedade para que pressione o poder público por mais resultados e políticas públicas na área de segurança. A convocação para o protesto vem circulando nas redes sociais, com o pedido para que a população vá de branco.
 
Na tarde de ontem, policiais do 12ºBPM (Niterói) prenderam um homem com uma submetralhadora e drogas na Favela Boavista, no Fonseca. O batalhão já havia prometido um reforço na segurança e prepara uma cartilha para ser distribuída aos moradores com dicas de como se prevenir de assaltos.
 
Perigo nas ruas
 
Com cerca de 500 mil habitantes e a maior renda média domiciliar mensal do país (R$ 2.031,18, segundo o Censo de 2010), Niterói vêm enfrentando uma onda de violência. Assaltos com reféns, arrastões e roubos de veículos se tornaram rotina nos últimos três meses em bairros como Icaraí, Ingá e São Francisco. O motivo seria a migração de traficantes que deixaram comunidades do Rio após a implantação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
 
Os bandidos costumam agir com rapidez e violência. E os resultados já começam a aparecer nas estatísticas. Em Icaraí, por exemplo, em janeiro de 2011, nenhum assalto a residência foi registrado na 77ª DP, responsável pelo policiamento do bairro. Já em janeiro deste ano, foram seis casos, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP).
 
De acordo com PMs e agentes da Polícia Civil de Niterói, traficantes da Mangueira assumiram a venda de drogas no Morro do Preventório, em Charitas. Por sua vez, bandidos das favelas do Complexo da Maré (que vai abrigar a sede do Batalhão de Operações Especiais) e traficantes de Senador Camará comandam agora o tráfico no Morro do Cavalão, no Centro de Niterói.
 
Mesmo com a onda de violência, Niterói perdeu efetivo para o patrulhamento ostensivo, que parece diminuir ano a ano. Segundo um diretor do Centro Comunitário de São Francisco, o do 12 º BPM passou de cerca de 1.200 homens, na década de 80, para 700.
 
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