09/06/2014 - 10:48

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Stuart Angel pode ter sido torturado no Santos Dumont

jornal O Dia

O deputado federal cassado Rubens Paiva e o dirigente do MR-8 Stuart Angel não se conheciam, mas tiveram seus destinos marcados pelo mesmo torturador: o sargento da Aeronáutica Abílio Corrêa de Souza. É o que revelou, à Comissão da Verdade do Rio (CEV-Rio), o capitão Lucio Barroso, ex- integrante do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa). Abílio já morreu. Ele contou ainda que os militantes eram levados para prisões na 3ª Zona Aérea no Aeroporto Santos Dumont e não para a Base Aérea do Galeão, como sempre se cogitou.
 
"O comando não se metia nestas coisas. Isto se dava entre os que trabalhavam ali, na informação. Quem buscou ele foi o Abílio", afirmou Barroso sobre a prisão do deputado. Ao falar do seqüesto de Stuart, ele disse crer que pode ter sido uma operação conjunta de várias forças.
 
Investigando o caso há um ano, a jornalista e assessora da CEV-Rio Denise Assis ainda encontrou, no arquivo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), um envelope com fotos de uma ossada descoberta na cabeceira do Aeroporto Santos Dumont em 18 de outubro de 1971. A prisão de Stuart ocorreu em 14 de maio do mesmo ano. A CEV-Rio acredita que as imagens possam ser dos restos mortais do líder do MR-8, mas aguarda o ICCE localizar o laudo feito após a retirada da ossada do aeroporto.
 
Além das fotos, o envelope continha um telex assinado pelo perito de local da Polícia Civil Jacques Wygoda. Segundo a coordenadora da pesquisa do caso e membro da CEV-Rio, Nadine Borges, Wygoda participou de outras perícias de local relativas a supostos suicídios ocorridos no DOI-Codi.
 
A informações existentes sobre o paradeiro de Stuart Angel baseavam-se na carta de denúncia feita pelo preso político Alex Polari de Alverga para a estilista Zuzu Angel, mãe do estudante. Ele contou ter presenciado a prisão e a tortura de Stuart no Grajaú, mas localizava a prisão de ambos na Base do Galeão.
 
Conforme Alex, Stuart foi torturado por cerca de dois dias. Os militares teriam amarrado sua cabeça a um cano de descarga de um jipe e depois ele teria sido arrastado no pátio da base. Mais tarde, Alex e Maria Cristina Ferreira, também presa política, dizem ter ouvido gemidos de Stuart ainda com vida na madrugada. De manhã, o corpo inerte foi retirado da cela.
 
Ele e Manoel Ferreira, outro preso político, apontam além do sargento Abílio, o brigadeiro João Paulo Moreira Zona Aérea, o brigadeiro Carlos Affonso Dellamora, chefe do Cisa, o coronel Ferdinando Muniz de Farias e o capitão Lucio Barroso. De todos, apenas o último não morreu. Sobre Abílio, Alex dizia que seu codinome era Pascoai. No ano passado, o jornal O Globo revelou que se tratava, na verdade, do sargento Abílio Corrêa de Souza.
 
Para o presidente da CEV-Rio, Wadih Damous, as investigações trouxeram avanços importantes. "O depoimento do agente Lucio Barroso joga novas luzes no caso do desaparecimento de Stuart, já que apresenta a hipótese plausível de ele ter sido torturado e morto nas dependências da antiga 3ª Zona Aérea no Santos Dumont Para lá também foi levado o deputado Rubens Paiva", analisou Damous.
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