10/05/2012 - 09:53

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STF racionaliza rito para julgar mensalão

Jornal do Commercio

No julgamento da Ação Penal 470 (mensalão), o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disporá de até cinco horas para apresentar os argumentos da acusação, enquanto os defensores de cada um dos 38 réus no processo terão uma hora, cada um, para apresentar a respectiva defesa. Por seu turno, o relator da ação, ministro Joaquim Barbosa, poderá fazer uma leitura sucinta do seu relatório, em poucas páginas, tendo em vista que o texto do próprio relatório já foi disponibilizado digitalmente a todos os ministros da Suprema Corte, ao procurador- geral da República e aos réus. Esse processo foi o primeiro da Suprema Corte a ser inteiramente digitalizado.

A decisão foi tomada por votação majoritária pelo plenário do STF, no julgamento da 9ª Questão de Ordem (QO) levantada pelo ministro Joaquim Barbosa na tarde de ontem, nesse processo. Voto parcialmente divergente, o ministro Marco Aurélio Mello considerou "inadequada" a questão de ordem levantada.

"Estamos decidindo sem as partes", observou Marco Aurélio. "Estamos fatiando o julgamento", acrescentou, apontando que esta questão somente deveria ser decidida por ocasião do julgamento.

Em relação ao tempo colocado à disposição do procuradorgeral da República, o ministro Marco Aurélio preferiu votar no sentido de que lhe seja dado o tempo suficiente para ele formular a acusação aos 38 réus, sem a limitação de cinco horas, embora, pelo princípio constitucional da equidade, poderia dispor de 38 horas, tendo em vista que, de acordo com o Regimento Interno do STF, o advogado de cada réu disporá de uma hora para realizar sua defesa.

Foi justamente sob o fundamento do princípio constitucional da equidade ou paridade de armas que o relator do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, propôs a questão de ordem.

"Como todos sabemos, essa ação penal, em razão de sua complexidade, constituirá, sem dúvida, um julgamento para a história do tribunal", observou ele. Isso porque, pelos cálculos do ministro relator, o Supremo consumirá pelo menos três semanas para realizar o julgamento.

Ainda por suas estimativas, a primeira semana do julgamento deverá ser dedicada inteiramente às exposições orais das defesas.

Ele ponderou sobre a complexidade do processo, citando que a ação, além dos 38 réus, já conta com 234 volumes, 495 apensos e 50.199 páginas. Barbosa disse que era preciso tomar essa decisão em plenário, uma vez que a Lei 8.038/90 (norma que regulamenta os processos perante o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal) e o Regimento Interno do STF não são suficientemente elucidativos sobre a questão. O ministro considerou que essas normas partem do princípio de que haja um acusador contra um ou poucos réus.

Na votação, prevaleceu o argumento de que se trata de um processo complexo e que, diante da multiplicidade de réus, para o bom andamento do julgamento era mesmo necessário estabelecer certas regras para o rito a ser nele adotado. Além disso, os ministros observaram que as peças dos autos estão disponíveis a todos os réus, por via digital, assegurando-se o direito constitucional à ampla defesa.

Visitas O presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Carlos Ayres Britto, recebeu na noite de terça-feira a visita dos presidentes do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Ari Pargendler, e do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro João Oreste Dalazen. Desde sua posse na presidência do STF, em abril, Ayres Britto tem realizado visitas institucionais com o objetivo de estabelecer um canal permanente de diálogo com os demais órgãos do Poder Judiciário. No encontro, os presidentes dos dois tribunais superiores, além de retribuir visitas anteriores, discutiram temas em comum.

Um dos itens da conversa foi a necessidade de retomada das discussões sobre a questão salarial dos servidores do Poder Judiciário e os subsídios da magistratura.

O chamado plano de carreira do Judiciário é objeto do Projeto de Lei nº 6.613/2009, atualmente na pauta da Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados. Ele altera dispositivos da Lei nº 11.416/2006, último instrumento a regular as carreiras dos servidores do Judiciário e a fixar vencimentos.

"A situação não é boa, porque os vencimentos dos servidores vêm perdendo atratividade", afirmou Ayres Britto. "Com isso, o Judiciário sofre um processo de desprofissionalização, com perda de quadros para outras carreiras mais atrativas financeiramente." A partir da articulação com os demais Tribunais Superiores, o presidente do STF afirma que pretende "sair a campo" para retomar as negociações no Legislativo "de forma focada", com base em dados técnicos fornecidos pelo Conselho Nacional de Justiça.
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