25/10/2011 - 12:38

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Secretário da Fifa apoia meia-entrada só para idosos em 2014

site da Folha

Responsável da Fifa para a Copa, o secretário-geral Jérôme Valcke, 51, diz ter lido na imprensa brasileira que é um homem mau. Mas isso não o impede de fazer concessões.

"Não pedimos ouro nos banheiros dos estádios", diz Fifa

O dirigente disse à Folha que a entidade aceitará a meia-entrada para idosos em ingressos do Mundial, mas não para outros, como estudantes. Promete, porém, um bilhete especial para brasileiros, com preço mais baixo.

A ideia é fechar com o governo o acordo da Lei Geral da Copa em novembro. Valcke estará no país na próxima semana, e Joseph Blatter, presidente da Fifa, depois.

Para o cartola, a Copa tem, hoje, cronograma apertado. E sua expectativa é que Luciana Santos, ex-prefeita de Olinda, seja indicada pelo governo para lidar com a Copa.

Confira a íntegra da entrevista feita por telefone:

Folha - O que foi mais importante para ter o jogo de abertura em São Paulo?
Jérôme Valcke - Acho que faz sentido. São Paulo é a maior cidade do Brasil. Apesar de as pessoas dizerem que o Rio é o Rio. Mas São Paulo é a maior cidade. E também porque no jogo de abertura nós temos que organizar o Congresso de Fifa com alguns milhares de delegados da Fifa. E assim era mais fácil para organizar pelo maior acesso de aeroporto internacional e todas as acomodações e também as instalações que São Paulo está disponibilizando para isso. Então, São Paulo era uma escolha natural.

A Fifa vai dividir a maior parte dos eventos entre São Paulo e o Rio?
Sim. Como fizemos na África do Sul entre Johannesburgo e Cidade do Cabo. Como fizemos na Alemanha entre Berlim e as outras cidades. É sempre o mesmo. Quando você tem uma Copa, você tem que ter certeza de que divide os eventos e jogos entre as principais cidades. Brasília está na tabela dos jogos.

Por que Fifa e COL (Comitê Organizador Local) desistiram da divisão regional da Copa, que foi pensada inicialmente?
Principalmente porque para o Brasil havia o desejo, por não ter organizado por 64 anos, de ter certeza de que todos os brasileiros tivessem a chance de ver todos os times. E que os times não tivessem locados apenas em uma região da cidade. Houve membros do comitê executivo, COL e cidades-secdes que disseram: nosso país é grande, mas quando vocês decidiram sediar a Copa em nosso país vocês sabiam que o país era grande. Por que deveremos ser penalizados por ser grandes e só umas cidades terem os grandes times? Reconhecemos que era um bom argumento do país, um bom ponto do Brasil. Decidimos que os times viajariam. Sabemos que é um desafio. Os times não são uma questão porque vão voar com seus voos. A questão é dos fãs e da mídia. Todos os times vão ter a chance de ver o Brasil. Pode conhecer Recife, e também Manaus. Manaus, e também Porto Alegre. E grandes cidades.

Fifa e o COL não têm lista final de centros de treinamentos, mas os melhores são no Rio e São Paulo. O senhor entende que haverá concentração dos times nestas duas cidades?
Você sabe, de novo, na África do Sul, a maioria dos times, e os que achavam que poderiam chegar ao final, decidiram ficar perto de Johannesburgo porque seria jogada a decisão lá, a 800 metros de altitude. Os times terão uma larga lista de CTs porque trabalhamos com o Brasil para ter a maior. Eles terão a chance de escolher. A maioria dos times decidem por ficar perto das fases final. É verdade que eles costumam escolher em termos de acomodação, de forma de movimentação, de tempo, de onde vão jogar nas fases final. Tenho certeza de que teremos mais ofertas do que na África do Sul, que tinha número limitado de CTs. No Brasil, trabalhamos com uma lista maior.

O Brasil tem uma cultura maior no futebol...
Sim, é verdade que tem as ligas mais fortes, clubes. O país tem mais potencial. África do Sul bastante agora [estrutura de futebol]. Em 2006, tinha bastante para construir. No Brasil, tem mais potencial.

Fizemos algumas reportagens que mostram que o Brasil quase não fez nada na infraestrutura, em transportes, dentro e fora das cidades, incluindo aeroportos. É uma preocupação da Fifa?
Não é preocupação para a Fifa, mas para todos nós. A preocupação é para que as pessoas se movam. Como você disse, aceitamos o risco de fazer a tabela de forma que os times se movam de região para região. Temos que ter certeza de quem vai seguir seu time, torcedor ou mídia, possa se mover facilmente do estádio. Não estou dizendo que possa ir a dois jogos em uma dia como na África do Sul, a não ser que seja na mesma zona. O que estamos falando é que você possa chegar no Rio, em São Paulo, e também em Recife, Manaus, Porto Alegre. Para que você possa achar facilmente um quarto se quiser ficar um dia. Facilmente, você possa fazer da sua vida não um sofrimento, como fã, jornalista, delegado. Esse é nossa preocupação. A preocupação é que, quando você for para o Maracanã, você possa ir sem seu carro e possa usar o transporte público. A preocupação é que quando você for a um jogo, não precise sair no dia anterior. Que seja fácil sair do seu hotel e não seja um pesadelo ir do seu hotel para o estádio. É o mesmo para os brasileiro. Independentemente de onde você esteja, de um hotel a uma favela, que seja fácil você ir para o estádio.

O governo brasileiro está dando relatórios sobre a construção de infraestrutura?
Estamos sempre em contato. Não só com o COL, que fala com cidades-sedes. Há seminários, equipes para ver a preparação. Temos uma claro atualização do que está acontecendo. Não estamos em Zurique esperando.

O que você acha desses relatórios até agora?
Há muito trabalho para fazer. Acho que a maioria das cidades estão bastante inclinadas a ter a Copa. É verdade que a lei geral da Copa não ajuda para o nível de Estado e da cidade. Porque é difícil quando não tem o guarda-chuva para fechar o acordo local. Mas acho que isso acontecerá nas próximas semanas. Depois, poderemos ir adiante. Não há dúvidas de que brasileiros querem organizar a Copa. Não só porque é a Copa, mas porque querem a sexta estrela na sua camisa. E, como Nova Zelândia venceu contra França [no rúgbi], na Nova Zelândia, brasileiros têm o único sonho de ganhar no estádio do Maracanã.

Haverá uma reunião entre o presidente Joseph Blatter e a presidente Dilma Roussef sobre a Lei Geral da Copa. Quais as principais preocupações da Fifa em relação à Lei Geral da Copa? Sabemos que as questões de marketing são mais preocupantes, e que a questão de ingressos é menos preocupante...
É um número de coisas. Primeiro, vou ao Brasil na próxima semana, mas sem Blatter. Vou a vários encontros importantes. Vou de novo em novembro depois com Blatter quando vamos vamos finalizar tudo com governo e Congresso. A principal preocupação da Fifa, de novo, é a certeza do nível de compromisso dado pelo governo, com Lula, para a Fifa quando o Brasil ganhou a Copa em 2007. Desde então, estamos negociando trabalhando para finalizar documento entre Fifa e Brasil. Houve um documento acordado em abril de 2011, e depois houve emendas nesse documento. Entendemos como o mundo trabalha. E não estamos [na negociação] para dizer que estamos sobre todas as leis e regulamentos. Quando a presidente Roussef disse que há a lei para proteger as pessoas acima de 65 com meia-entrada, eu disse a ela: eu não quero mudar essa lei. Estamos bem. Vamos trabalhar para que todas as pessoas acima de 65 anos ou 60 anos, não lembro bem, tenham acesso à meia-entrada. Mas, ao mesmo tempo, temos que ter certeza de que não estamos enfrentando um número de comunidades que tenham acesso à meia-entrada, seja lá quem eles sejam: doadores de sangue, estudantes, ex-jogadores, etc. Então, temos que trabalhar em um ingresso da categoria 4 [a mais barata da Copa] que não é só para esses grupos, mas acesso para todos os brasileiros que não podem pagar muito pelos ingressos. Mas que todos os brasileiros, não só esses grupos, possam ter acesso a um novo tipo de categoria, como tivemos na África do Sul, de preços de ingressos. Para que todos os brasileiros, incluindo esses grupos, tenham acesso aos ingressos, com nível baixo de preço. Acho que é mais justo do que considerar só uma parte de brasileiros, e não considerar pessoas que não têm chances para ir à Copa. É verdade que, em relação ao marketing, há questões, achamos que temos que defender nossos parceiros. Não é nada mais do que pedimos na África do Sul, nada mais da Rússia. Pedimos para defender nossos interesses. De novo, a Copa é 86% de nossa receita. E organizamos 21 Copas do Mundo por ciclos, sub-20, sub-17... E precisamos ter certeza de que financiamos esses eventos. E esses eventos não fazem um centavo. Não somos uma empresa com acionistas fazendo mais dinheiro no final do ano. Não há interesse particular. Proteger futebol, é proteger as receitas da Fifa. Por isso trabalhamos com o governo. Mas, quando achamos que é justo o país proteger suas regulações, reconhecemos e aceitamos.

Parece haver um cenário claro de acordo, já que o governo brasileiro não tem apresentado questões sobre marketing e tv. E como há questão de ingressos com cotas. Parece ir a um acordo?
Não sei. A única coisa que falamos de ingressos é essa para idosos. E para outros falaremos da categoria 4 [a mais barata da Copa]. E, quanto ao marketing, chegaremos a um texto final. Não é Fifa contra Brasil. Blatter contra Dilma Roussef. Temos que trabalhar juntos. O encontro com Roussef foi bem sucedido. Não houve tensão. Não houve nenhum momento em que eu pedia por algo que ela não pudesse fazer. Nem houve um momento em que ela queria algo que eu não podia me comprometer. Somos pessoas grandes. Temos grandes interesses. Sempre vamos entrar em um acordo. Não vamos organizar uma Copa contra o Brasil, com vocês.

Então, não há uma solução para organizar a Copa além de fazer no Brasil?
Quem disse isso não sabe como funciona. Não há outra solução. E não há outro desejo. Não houve um pensamento sobre isso.

Em entrevista, o senhor disse que haveria uma novo representante do Brasil na negociação com a Fifa. Isso criou uma controvérsia já que o governo afirmou que o ministro do Esporte continua como seu representante. Você teve informação diferente do governo? Gostaria de esclarecer?
Me foi dito há uma semana atrás que a ex-prefeita de Recife [Luciana Santos, ex-prefeita de Olinda], mulher, iria trabalhar com Roussef também na Copa. Haveria uma pessoa de sua equipe para trabalhar na Copa. O que posso dizer sobre Orlando Silva [ministro do Esporte], eu li o que você escreveu e o que a imprensa brasileira escreveu, eu entendi que havia preocupação com o senhor Silva. Eu espero que não exista uma vácuo. Que sempre tenha uma pessoa para falar com a Fifa. Entendi que essa pessoa do Brasil seria uma pessoa nova em sua equipe.

Luciana Santos?
Que Dilma afirmou em uma coletiva. Se é essa pessoa, eu vou falar [com ela]. Não há tempo para perder até a Copa. Espero que não exista um período em que não exista pessoa com quem eu possa falar no governo.

O senhor teve alguma informação oficial?
Não. Eu apenas li o que você escreve. Li o que está no jornal. Não recebi nenhuma carta.

Luciana Santos foi candidata para ministra de Esporte.

O que li foi que ela não será a ministra. Mas que, quando houver um problema no nível de governo, ela será a pessoa responsável por coordenar a Copa. Não me foi dito que seria substituta de Orlando.

Funcionaria melhor ter uma pessoa específica para cuidar da Copa?
Acho que precisa uma pessoa, que teve na África do Sul, que seja capaz de ter contato em todos os setores da organização da Copa. Que poderia entrar em contato com as pessoas certas. Não temos tempo para pensar duas vezes. A Copa é amanhã. Precisamos ter certeza de que trabalhamos com uma pessoa. Não dá para dizer vamos organizar amanhã. Se há uma questão, temos que resolver no dia da questão.

O senhor acha então que não há um atraso, mas um calendário apertado até a Copa?
Claramente, há um cronograma muito apertado até a Copa. Não vou dizer que está tudo bem, a vida é bonita. Temos um calendário apertado.

Foram levantadas questões sobre se era mais fácil para a Fifa falar com Lula do que com Dilma?
Pessoalmente, a senhora Roussef entende francês então é mais fácil falar com ela. Uma brincadeira interna. No tempo de Lula, não havia uma grande discussão entre Fifa e Copa, porque era muito cedo. A presidente Roussef entende a magnitude do que precisamos para a Copa, e o desafio. Ela tem muito mais coisas na sua mesa do que a Copa. Tem que tocar a sétima economia do mundo, tem a crise da Europa, que tem dado apoio. Tem muitas coisas para fazer. Mas ela sabe que é muito importante ser bem-sucedido na organização da Copa. Não faço políticas. O único objetivo é entregar a Copa. Seja quem for o vencedor, tem que ser uma grande Copa. É que o precisamos fazer juntos. Tivemos um encontro com ela. Acho que entendemos juntos quais os desafios para Fifa e Brasil.

Pelo cronograma, o senhor vem resolver questões técnicas e depois Blatter e Roussef se encontram quando estiver resolvido?
Esse é o plano. Vamos trabalhar para finalizar as coisas. Como você sabe, o governo tem que aprovar e depois tem que ir para o Congresso. Temos que ter certeza de que o Congresso concorde e tome uma decisão rápida. Depois, isso será uma história velha e poderemos apressar a organização da Copa. Quando esses textos estiverem em um acordo, Blatter e Dilma terão um encontro para falar da importância de trabalhar juntos. Isso deve acontecer. Tem que acontecer até o final do ano.

O senhor tem mais desafios no Brasil do que na África do Sul?
São países diferentes, desafios diferentes. Há um desafio que é o mesmo, frequentemente. A Rússia está fazendo bem. A maioria dos países têm a sensação de que só devem começar após a final da outra Copa. De um jeito, é um erro. A França teve que fazer muito em estádios [em 1998], mas tinha pouco a fazer em acomodações e infraestrutura. E o país não era tão grande quanto o Brasil. A África tinha que trabalhar bastante. O desafio do Brasil, com exceção de aviões, é difícil se mover de um lado para o outro. Tem que poder receber mais de 30 aviões por um dia. Precisa mais de transporte do aeroporto para a cidade. Tem que ter mais acomodação que as pessoas possam receber. Não é tão diferente em relação ao nível de coisas para construir. Por isso, damos a Copa sete anos antes. O conselho é não esperar. Comece quando falta sete anos.

A Fifa também aprendeu bastante da Copa?
Não é ser arrogante. Sabemos como organizar uma Copa. Não estamos aqui para criticar. Sabemos como é difícil organizar a Copa. Por isso, cobramos. Não pode construir um estádio em um dia, um hotel em um dia, o transporte público em um dia. É verdade que sou sempre quem diz que pessoas estão atrasadas, estão fazendo isso ou não. A Copa não pode ser organizada em um ano, dois anos, três. Leva anos para ser organizar. Para isso que sou pago. É para garantir que a Copa seja um sucesso para a Fifa e que funcione. Por isso, que cobro e sou mal por dizer o que eles têm a fazer.

O senhor se preocupa com sua imagem?
Se toda a manhã, o jornalista diz que você é mal e o que você é errado, você fica preocupado. Mas, se você parar para ficar muito preocupado, não trabalharia e teria de ficar sem trabalhar por longo tempo. Você pode ver é que pessoas na África do Sul, falaram, falaram, falaram. Mas nos dias de competição, ninguém falou nada. E todo mundo diz que, no final, foi ótimo e foi um sucesso. O importante é que no final digam se foi um sucesso. Se no final, disseram que não foi bem, será minha responsabilidade.

Só se preocupar com o relatório final?
Não entendo porque as pessoas no Brasil põe um dedo negativo nas coisas. A Copa é mais do que tirar. Não estamos tirando dinheiro do Brasil. Não pedimos para Brasil dar um centavo. Nós, na Fifa, botamos US$ 1,2 bilhão na África do Sul. Vamos botar milhões no Brasil para organizar na Copa. O que for botado no Brasil, ficará no Brasil. Haverá os estádios para fãs aproveitarem futebol no país. O que estamos fazendo é para apoiar o futebol em volta do mundo. Se no Brasil dizem que a Fifa é mau, não reconhece o número de empregos, conhecimento que será importante para 2016, que virá com a Copa. Pessoas poderão aprender sobre negócios, hospitalidade. Mas a mídia não gosta das boas histórias. A Copa não traz só más coisas, traz várias coisas boas. Pessoas vão ao país e vão deixar dinheiro. Não foi um erro [do Brasil] pedir para organizar a Copa. É um dos países tops do mundo. O Brasil vai se beneficiar após a Copa. É o que quero quer reconheçam no país.
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