08/02/2018 - 17:14 | última atualização em 08/02/2018 - 17:25

COMPARTILHE

Representatividade de mulheres negras na mídia é tema de debate

redação da Tribuna do Advogado

Foto: Eduardo Sarmento  |   Clique para ampliar
O Grupo de Trabalho (GT) Mulheres Negras da OAB Mulher realizou nesta quarta-feira, dia 7, um debate sobre racismo na mídia e na publicidade, dando enfoque à necessidade de dar voz às mulheres negras. A coordenadora do GT, Marina Marçal, comemorou a grande adesão do público, que encheu o Plenário Evandro Lins e Silva. “E fico muito feliz que pessoas brancas e homens estejam aqui hoje interessados nesse assunto porque nós só temos que falar disso porque até agora muitas pessoas brancas não entenderam que, por ação ou por omissão, o racismo continua. A omissão é uma das grandes características que fazem o racismo ser da forma que ele opera aqui no Brasil”, afirmou.
 
Para a vice-presidente da OAB Mulher, Bianca Morais Reis, o GT Mulheres Negras é o principal dentro da comissão. “Com o tempo eu fui aprendendo que a luta das mulheres negras é realmente muito mais difícil do que a gente pode imaginar. Essa causa é muito atual e completamente pertinente. Todos os dias a gente vê na mídia a questão do racismo e, principalmente, em relação às mulheres. Esse tema precisa ser falado e debatido”, disse.
 
Entre as ações do GT está o documentário “Nega Maluca”, Não!, que foi exibido pela primeira vez no evento e traz o depoimento de várias mulheres negras sobre o desconforto e o racismo da pela representação da mulher negra na fantasia de Nega Maluca. O documentário será disponibilizado no YouTube.
Primeira palestrante da noite, a pedagoga Carolina Netto tratou sobre a representatividade negra infanto-juvenil em telenovelas. Ela trouxe um recorte de sua pesquisa do mestrado, com um grupo de meninas de Gramacho, em Duque de Caxias. “Perguntei a 18 meninas, com idade entre 9 e 14 anos, qual é o programa de televisão que elas mais gostam. Onze delas citaram telenovelas”, disse. Carolina mostrou que as telenovelas voltadas para essa faixa etária possuem uma quantidade muito pequena de crianças negras.
 
“Enquanto a gente não destrói esse sistema que está ai, o que é bem complexo, a gente ainda faz parte dele, então a gente precisa minimamente lutar por uma representação equânime e positiva de fato, não uma representação meia boca, com um personagem só, feito de qualquer maneira. Precisamos saber como esses personagens são construídos, para que essas crianças se vejam de forma positiva. Isso não acontece, infelizmente. Trouxe exemplos recentes de alunos que poderiam ser meus filhos e estão acessando esse mesmo conteúdo que eu acessei na minha infância. Pouca coisa mudou. Essas representações ainda são muito irresponsáveis”, afirmou Carolina.
 
A âncora da TV Brasil, Luciana Barreto, falou sobre representatividade e representação na mídia e nos meios de comunicação. “Percebi que essa representação e essa representatividade eram muito importantes para quem está nos assistindo. Representatividade, para mim, é quando o receptor vê que tem alguém o representando, que é alguém de importância ocupando um espaço que ele não está acostumado a ver ali”, explicou.
 
Luciana destacou, ainda, que a pouca representação dos negros na mídia é de subalternidade. “Dados de 2016 do Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ações Afirmativas da Uerj mostram que não existem nem 10% de negros entre os colunistas de grandes jornais. No O Globo são 9%, na Folha são 4% e no Estadão é 1%. E estamos falando de colunistas, pessoas que podem omitir a sua opinião, podem falar contra cotas, por exemplo. São pessoas que formam opinião e podem falar contra as bandeiras da necessidade do povo negro”, destacou.
 
A advogada Renata Shaw falou da visibilidade dos negros no mundo da publicidade, tanto sobre a representatividade em obras publicitárias quanto a presença de negros nas agências de publicidade. “Quando a gente fala de publicidade é muito comum que as pessoas falem do racismo, mas existem outras questões mais estruturais. Uma delas é a da produção. Quem hoje produz a publicidade? Como as peças são produzidas? Não é somente a questão de ter um negro dentro de uma peça publicitária, mas como ele é posto ali. Além de questionarmos a voz do publicitário negro inserindo o ator/modelo negro dentro da peça".
Abrir WhatsApp