29/05/2013 - 10:10 | última atualização em 29/05/2013 - 15:31

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Relato feminino do terror emociona comissão no Rio

jornal O Estado de S. Paulo

Em depoimento ontem à Comissão Estadual da Verdade do Rio, a cineasta Lúcia Murat relatou que durante a ditadura militar sofreu "tortura sexual científica", na definição de seu torturador. "Tive a pior sensação da minha vida. A sensação de não poder morrer". A historiadora Dulce Pandolfi também deu um depoimento emocionado à comissão.
 
 
Íntegra do depoimento de Dulce Pandolfi
Lúcia e Dulce denunciaram as torturas a que foram submetidas na ditadura, com relatos de agressão, afogamentos, choques e abusos sexuais. "Eu ficava nua, com um capuz na cabeça, uma corda enrolada no pescoço passando pelas costas até as mãos, que estavam amarradas atrás da cintura", contou Lúcia. Enquanto o torturador cometia os abusos, ela não conseguia se defender. "Se eu movimentasse meus braços para me proteger, eu me enforcava."
 
Dulce se recordou da frase dita por um militar no momento em que entrou no quartel da Polícia do Exército, quando foi presa em 1970: "Aqui não existe Deus, nem Pátria, nem família. Só nós e você". Durante os três meses em que ficou no Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), as torturas incluíam até ter um jacaré andando sobre seu corpo nu. Dulce também serviu de cobaia para uma aula de tortura. "Enquanto eu levava choques elétricos, pendurada no pau de arara, ouvia o 'professor' dizer: 'Essa é a técnica mais eficaz'."
 
Após passar três meses no DOI-Codi e um mês no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), Dulce foi transferida para um presídio em Bangu e depois para outro no Recife. No total, ficou presa por um ano e quatro meses. "É muito duro lembrar essa situação, mas é fundamental para que possamos construir um País mais justo."
 
Crimes
 
Lúcia Murat, que permaneceu três anos e meio na prisão, relatou momentos de horror no DOI-Codi. "Eu chorava e pedia pra eles me matarem. Eles riam. Eram donos das nossas vidas e das nossas mortes". Lúcia tentou o suicídio duas vezes enquanto esteve presa. "Não aceitei dar esse depoimento nem por vingança nem por masoquismo, mas porque acho fundamental contar essa história e revelar que foram, sim, praticados crimes de lesa-humanidade."
 
"Tudo isso é parte desse exercício de olhar pro passado sem medo, e de saber qual foi o papel do Estado brasileiro como instaurador do terror", disse o diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil, Átila Roque.
 
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