04/01/2012 - 11:07

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Preocupação com chuva ruma para o Noroeste do Rio

O Globo

Duas pessoas morreram ontem em Laje do Muriaé, elevando para três o número de óbitos no estado em decorrência das chuvas dos últimos dias - a primeira vítima foi um morador de Miguel Pereira, na madrugada de segunda-feira. Duas mil pessoas ficaram desalojadas em Laje do Muriaé e 800 em Itaperuna. As cidades ficam no Noroeste Fluminense, que, segundo dados divulgados pela Defesa Civil estadual, é a região até agora mais afetada por inundações e deslizamentos, que já deixaram 3.108 desalojados no estado.
 
"Um homem de 72 anos morreu após sofrer uma queda, quando retirava os móveis da casa inundada, e uma senhora de 70 anos morreu de infarto", disse o secretário estadual de Defesa Civil e comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Sérgio Simões, ao falar sobre as mortes em Laje do Muriaé.
 
Ele continuava até ontem em Nova Friburgo, na Serra: "A situação aqui está voltando à normalidade. É provável que as equipes sejam desmobilizadas a partir de amanhã (hoje). Vamos concentrar nossas forças no Noroeste."
 
O governador Sérgio Cabral, que esteve ontem em Friburgo, a área mais afetada pelas chuvas do ano passado, afirmou que a recuperação da Região Serrana ainda é uma "tarefa gigantesca" para o estado: "A demanda é muito grande. Ainda temos uma gigantesca tarefa pela frente e essa recuperação não se conclui em um ano", disse ao site G1.
 
Rios continuam acima do nível normal
 
Cabral esteve em Friburgo para entregar carros à Defesa Civil para atuar no município, em Teresópolis e Petrópolis. O governador disse ainda que uma nova catástrofe foi evitada graças ao alerta de sirene instalado em áreas de risco de Friburgo:
 
"O que evitou a morte de pessoas dessa vez foi exatamente o funcionamento de alarmes e treinamentos.
 
Ainda segundo ele, 2.200 casas serão construídas em áreas seguras de Friburgo para as famílias desabrigadas.
 
Os rios Muriaé, Pomba e Paraíba do Sul, que atravessam o Noroeste, continuam acima do nível normal. O Rio Pomba invadiu as áreas mais baixas de Santo Antônio de Pádua e, como precaução, a prefeitura transferiu para Miracema os 30 pacientes internados no único hospital da cidade. Em Itaperuna, maior cidade do Noroeste, o Rio Muriaé invadiu a Avenida Cardoso Moreira, no Centro, e o quartel dos bombeiros foi transferido para um Ciep. Em Cambuci, um valão que corta a cidade transbordou.
 
Trinta bombeiros foram deslocados para a Região Serrana e 50 para o Noroeste. Segundo a Defesa Civil estadual, 707 pessoas ficaram desabrigadas e 84 casas foram destruídas no estado. Ao todo, 25 municípios foram afetados pelas chuvas. Ontem, todos já tinham deixado os estágios de alerta e de atenção, passando para o de vigilância. Entre eles, estão os da Baixada Fluminense. Ontem foi o dia de tirar a lama das casas. Os 34 desalojados de Belford Roxo e de Duque de Caxias voltaram para suas residências.
 
Apesar da trégua das chuvas na Serra, o deslizamento de uma barreira interditou ontem, às 10h, a RJ-116 (Itaboraí-Nova Friburgo-Macuco), no Km 70, em Mury, Friburgo. O trecho foi liberado parcialmente à noite, em sistema de pare e siga. No mesmo município, o Córrego D'Antas, bairro mais prejudicado, ainda tinha sinais de destruição, com muita lama nas ruas. Quem havia saído de casa após ouvir as sirenes, que alertam para o risco de deslizamento e enchentes, retomava a rotina. Na creche municipal Maria Inês A. Bachini, apenas uma família continuava abrigada.
 
"Nossa casa no alto do bairro está condenada desde as chuvas do ano passado. Na época, nós passamos um tempo fora, mas, como não conseguimos o aluguel social, retornamos. Ontem (anteontem), o barranco atrás da minha casa desceu todo", contou Alexsandra Pinheiro da Silva, abrigada com quatro filhos menores.
 
Em Barra do Piraí, no Médio Paraíba, a chuva causou o transbordamento de uma represa no alto de um morro. A enxurrada de água e lama atingiu 14 casas, um posto de saúde e uma escola no bairro Cantão. Ninguém se feriu, mas os moradores tiveram que sair dos imóveis. Segundo eles, a Carioca Engenharia teria retirado terra e pedras de cima do morro para fazer aterros e, com a chuva, as crateras se transformaram num lago.
 
A moradora Fabiane Fontenelle contou que a lama invadiu as casas rapidamente:" Ouvi um barulho muito alto e pessoas gritando. Só deu tempo de tirar meus filhos pela janela."
 
A Defesa Civil cadastrou as famílias atingidas. Segundo o prefeito José Luiz Anchite, a Carioca Engenharia, que está fazendo uma obra do estado - uma terceira ponte sobre o Rio Paraíba do Sul -, será acionada para prestar apoio às famílias. A Secretaria do Ambiente emitiu um laudo contra a empresa e a Defesa Civil do município aguarda a palavra da Carioca.
 
O Ministério Público (MP) estadual expediu ontem uma recomendação ao prefeito de Nova Friburgo, à Defesa Civil do município e à Secretaria municipal de Assistência Social para que cumpram decisão liminar, de setembro passado, que tornou obrigatória a imediata adoção de políticas públicas de proteção da população contra as chuvas. Entre elas, está a implementação do plano de contingência e de alerta nas áreas de risco.
 
MP constata falhas nos pontos de apoio de Friburgo
 
O envio da recomendação ocorreu após uma vistoria feita na segunda-feira, quando foram constatados problemas com os pontos de apoio (locais para onde os moradores de áreas de risco devem se dirigir quando soa o alerta). O MP deu prazo de cinco dias para o cumprimento das exigências. Segundo o órgão, apesar de as sirenes de 14 áreas terem sido acionadas, a lista dos pontos de apoio na cidade não fora divulgada. O órgão informou que sete deles estavam fechados e havia problemas com aqueles em funcionamento.
 
O MP citou o ponto de apoio do Córrego D'Antas, que tinha a supervisão de apenas uma voluntária. Segundo o órgão, "não havia luzes de emergência, velas, material de limpeza e de higiene pessoal. Apenas água, leite e biscoitos foram doados em quantidade insuficiente para dois dias". O MP pede à prefeitura que mantenha os pontos de apoio abertos 24 horas por dia, com estrutura adequada.
 
Também em Friburgo, o ex-prefeito Dermeval Barboza, alvo de ação de improbidade administrativa na Justiça Federal por desvio de R$300 mil liberados pela União para a reconstrução da cidade, é acusado pelo MP de, entre outras irregularidades, dispensar licitação para desratização em 41 escolas não atingidas pelas enxurradas de 2011 e pagar por serviços em colégios que já não existiam.
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