01/10/2012 - 10:12

COMPARTILHE

Polêmica: 60% dos cariocas a favor de legalizar o bicho

jornal O Dia

Base de rede criminosa que movimenta milhões de reais por ano e subsidia o maior Carnaval do país, o jogo do bicho ainda seduz a maioria dos cariocas. Pesquisa feita pelo Ibope com moradores do Rio, Baixada Fluminense, Niterói e São Gonçalo revelou que 59% dos entrevistados são a favor da legalização das apostas feitas com apontadores - na capital, esse número chega a 60%. Em outra pergunta, o levantamento mostrou ainda que 58% das pessoas são contra tornar a atividade crime e apenas 33% são favoráveis.
 
Para sociólogo da UFRJ e ex-secretário estadual de Direitos Humanos, Paulo Baia, o resultado da pesquisa mostra que boa parte das pessoas no Rio de Janeiro ainda tem uma visão ingênua da contravenção. "O romantismo do jogo do bicho é uma fachada para esconder o mundo de criminalidade. As pessoas não enxergam o apontador como risco. Mas elas se esquecem que eles integram uma sociedade criminosa ao estilo da máfia italiana. Os banqueiros do jogo não vendem arma e drogas, mas emprestam dinheiro para quem quer fazer isso", disse Baia.
 Romantismo do jogo do bicho é fachada para esconder mundo de criminalidade. Banqueiros não vendem arma e drogas, mas emprestam dinheiro para quem quer fazer isso
Paulo Baia
sociólogo
 
 
O deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ) acredita que a legalização do jogo do bicho vai reduzir a criminalidade que envolve o cenário da contravenção, além de impedir aprática da lavagem de dinheiro, já que os operadores seriam obrigados a fazer prestação pública das contas. O parlamentar diz ainda haver benefícios para o governo, que iria recolher impostos com as apostas. "Sou a favor da legalização. Criminalizar não impedirá que o jogo continue acontecendo. É uma prática ligada à nossa identidade cultural", argumenta.
 
O Ibope ouviu 805 pessoas entre 20 e 23 de junho. A pesquisa foi feita a pedido do site Boletim de Notícias Lotéricas, especializado no mercado lotérico e de apostas.
 
Outro resultado chamou atenção: 42% dos fluminenses acreditam que, com a criminalização do bicho e a consequente saída dos bicheiros da atividade, o jogo passaria a ser controlado pelos traficantes e pela milícia. Já 29% acham que o jogo acabaria, 3% afirmam que seria operado por policiais e 2%, por políticos e governo corruptos.
 
Sou a favor da legalização. Criminalizar não impedirá que o jogo continue acontecendo. É uma prática ligada à nossa identidade cultural
Jean Wyllys
deputado federal (Psol-RJ)
A operação Catedral, realizada no final de agosto, mostrou que os tentáculos do jogo do bicho chegam às instituições de Segurança Pública. Nove policiais civis e militares foram presos por receber propina de R$ 30 mil da organização criminosa que atuava na região da Central do Brasil, em partes do Centro e em São Cristóvão.
 
Em dezembro de 2011, a operação Dedo de Deus prendeu 44 pessoas e encontrou quase R$ 4 milhões em paredes e no esgoto de um apartamento de luxo na Barra da Tijuca.
 
Em resposta aos resultados da pesquisa, a Secretaria de Segurança Pública do Rio afirmou que o jogo do bicho "extrapola a mera contravenção penal, passando a envolver vários tipos de crime, como ameaça, agressão física, assassinato, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e crime contra a economia popular".
 
Em nota, disse ainda que bicheiros tentam criar uma imagem simpática junto à opinião pública, "tornando-se mecenas de escolas de samba e clubes de futebol, de forma a explorar a boa vontade da população carioca com a jogatina clandestina".
 
Pela lei atual, o bicho é contravenção. Na prática, a pena máxima para quem joga ou explora é de no máximo 1 ano. Mas comissão de juristas do Senado aprovou proposta para criminalizar a exploração da prática, que ainda tramita.
 
Nesse caso, a atividade seria incluída no Código Penal reformulado, com pena de 2 anos e meio. Mas já há quem considere o bicho crime. Em julho, a presidenta Dilma Rousseff sancionou lei que diz que movimentação de recursos sem explicações é lavagem de dinheiro.
 
Abrir WhatsApp