05/10/2015 - 11:10 | última atualização em 05/10/2015 - 11:32

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PMs que agrediram juíza são transferidos

O Globo

Unidades de elite da PM adotaram ontem uma medida restrita a situações de risco na transferência de policiais detidos no Batalhão Especial Prisional (BEP), em Benfica: o uso de toucas ninja. Ontem, 123 detentos que aguardam o julgamento de processos criminais foram levados para a Unidade Prisional da Polícia Militar, antiga Penitenciária Vieira Ferreira Neto, em Niterói. A Justiça determinou o fechamento do BEP na noite de quinta-feira, horas após a juíza Daniela Barbosa Assumpção de Souza, da Vara de Execuções Penais (VEP), e agentes de sua escolta terem sido agredidos durante uma inspeção na unidade. Devido ao ataque, a segurança da magistrada foi duplamente reforçada.
 
Uma resolução assinada em agosto pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, permite que homens das tropas de elite da PM usem toucas ninja, desde que sejam autorizados por seus comandantes. Procurada para comentar o assunto, a corporação não explicou o motivo de policiais terem escondido o rosto na operação. Para Manoel Peixinho, professor de Direito Constitucional da PUC, a adoção da medida indica o grau de periculosidade dos PMs presos no BEP: "Policiais de unidades de elite como o Batalhão de Choque e o Bope são treinados com rigor e entram em comunidades de cara limpa. O uso de toucas ninja é o reconhecimento de que os PMs presos são criminosos bem organizados, que têm condições de retaliar os colegas".
 
Tenente-coronel reformado da PM, Milton Corrêa da Costa disse que o fato é "inusitado": "Não se estava escoltando uma organização mafiosa de altíssima periculosidade. Salvo algum dado consistente da inteligência que justifique a prevenção, não vislumbro a necessidade de tal medida".
 
Já o antropólogo Paulo Storani, ex-oficial do Bope, apoiou o uso das toucas ninja: "Pode haver um problema para o policial, como ter uma pessoa próxima entre os presos. E tem uma questão de segurança também, porque há milicianos sendo escoltados. O policial corre o risco de sofrer retaliação".
 
Segurança reforçada
 
Responsável pelo fechamento do BEP, o juiz Eduardo Oberg, titular da VEP, afirmou que "a desordem e o caos imperam há muito tempo" na unidade. Os 98 presos que permaneciam ontem no local deverão ser transferidos hoje. No novo presídio, os PMs ficarão sob a custódia de agentes penitenciários - ou seja, não serão mais vigiados por colegas de farda. Segundo Oberg, a mudança ajudará a acabar com regalias.
 
Pela segunda vez, a juíza Daniela de Souza ganhou reforço em sua escolta pessoal. Quando atuava na Baixada, a medida se fez necessária porque ela determinou a prisão de milicianos.
 
"Agora, ela anda com mais seguranças do que o próprio presidente do TJ (desembargador Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho)", disse uma fonte do Judiciário.
 
Na tarde de quinta-feira, ao entrar no BEP para realizar uma inspeção, a magistrada estava acompanhada por dez homens, entre seguranças pessoais e agentes da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap). Na hora da agressão, o tenente coronel Murilo Sérgio Angelotti, diretor da unidade, estava em Niterói verificando as condições da Penitenciária Vieira Ferreira Neto.
 
Até mesa foi jogada em juíza

Assim que a juíza chegou ao terceiro andar, na galeria E, o cabo Aldo Leonardo Ferrari, que tem um transtorno psiquiátrico, se exaltou. Ele atirou objetos, até mesmo uma mesa, na direção da magistrada. O tumulto atraiu a atenção de outros presos, que hostilizaram a juíza e gritaram que não admitiriam ser tratados como bandidos. Um grupo de detentos tentou atacá-la pelas costas, e só não a acertaram porque os seguranças e outros presos fizeram um círculo de proteção. A escolta foi agredida a pauladas. Na confusão, Daniela perdeu os óculos, um sapato e teve a blusa rasgada.
 
O Bope foi chamado e a inspeção, retomada. A juíza encontrou celulares e carregadores no BEP. Numa vistoria realizada em agosto, ela encontrou televisores de LCD, aparelhos de som, consoles de videogame e até um caixa eletrônico de banco dentro da unidade, além de carnes e bebidas que seriam servidas em um churrasco.
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