04/10/2011 - 12:03

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PM preso revela que, além de juíza, policial seria assassinado

Extra

A situação do tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira, ex-comandante do 7º BPM (São Gonçalo) e do 22º BPM (Maré), ficou ainda mais complicada com o depoimento de um segundo cabo da PM, também preso, acusado de participação na morte da juíza Patrícia Acioli. O policial, que trabalhava no 7º BPM, em depoimento na tarde de sexta-feira ao juiz Peterson Barroso Simão, da 3ª Vara Criminal de Niterói, decidiu contar o que sabe e fez novas revelações. Disse ter ouvido do tenente Daniel dos Santos Benitez Lopes, que também está preso, que o tenente-coronel aprovou o assassinato da juíza. Segundo o cabo, Benitez contou que, ao saber do plano, o oficial deu sinal verde: "Você me faria um grande favor", teria dito Cláudio, conforme o depoimento, ao qual O GLOBO teve acesso.
 
No depoimento de duas horas e que mobilizou um grande aparato de segurança, o cabo contou ainda que o plano discutido pelo grupo de PMs envolvia não apenas a juíza, mas também um inspetor da Polícia Civil lotado no setor de Homicídios da delegacia de São Gonçalo. O inspetor, na opinião dos PMs, distorcia os registros de autos de resistência e deveria "levar um rodo" (morrer). Ainda segundo o cabo, Benitez teria conversado com o tenente-coronel sobre o assassinato do inspetor e teria ouvido dele: "Covardia se combate com covardia".
 
Promotores: não há dúvida da participação de oficial
 
Para os promotores do MP estadual que estavam presentes ao depoimento, Rubens Vianna, Leandro Navega, Claucio Cardoso e Daniel Faria Braz, não há mais dúvidas de que o tenente-coronel participou do plano, aprovando o assassinato da juíza.
 
"O depoimento do cabo acrescentou detalhes importantes sobre a participação do tenente-coronel e dos outros envolvidos. Estou convencido da participação do oficial e de que o crime tem raízes no passado", disse o promotor Rubens Vianna, da 7ª Promotoria de Investigação Penal (PIP).
 
O depoimento começou por volta das 16h, com a presença do advogado Manoel de Jesus Soares, que defende o tenente-coronel - e também o ex-banqueiro Salvatore Cacciola. Na sala do juiz, ainda estavam presentes defensores públicos e o advogado Fernando Praxedes, da OAB de Niterói. A delegada Martha Rocha, chefe de Polícia Civil, também chegou ao Fórum de Niterói, mas não entrou.
 
O cabo chegou ao Fórum escoltado por vários policiais civis da Divisão de Homicídios por volta das 14h. Algemado, de bermuda e camisa estampadas e muito abatido, ele foi levado à sala do juiz depois de atravessar um corredor puxado pelo delegado Felipe Ettore, titular da DH. Logo depois, um grupo de quatro policiais civis entrou no gabinete do juiz Peterson com quatro caixas grandes onde estavam 15 volumes do inquérito que apura o assassinato da juíza Patrícia Acioli. O material deverá ser transferido na semana que vem para a sede do MP.
 
No depoimento, de cinco páginas, o cabo disse que estava arrependido e confirmou que os policiais do 7º BPM tentaram executar a juíza em pelo menos duas outras ocasiões. Também afirmou várias vezes que o tenente Benitez e o tenente-coronel Cláudio eram muito amigos. Num dos trechos, o cabo deixou claro que o ex-comandante do 7º BPM não gostava da juíza. O tenente-coronel, segundo o cabo, teria dito que, "se ordens da juíza não fossem escritas, ele não cumpria". Um desses pedidos de Patrícia era manter fora das ruas (em atividade interna) PMs envolvidos em ocorrência de autos de resistência.
 
Também no depoimento, o cabo revelou que cada policial do GAT recebia entre R$ 10 mil e R$ 12 mil semanalmente de propina. O dinheiro era o resultado do recolhimento de drogas e dinheiro de traficantes que atuam nas favelas de São Gonçalo, durante operações - o chamado "espólio de guerra". Afirmou ainda que, quando a arrecadação em extorsões era grande, o tenente Benitez separava uma parte do "espólio" para entregar ao tenente-coronel Cláudio.
 
Soldado se entrega e diz que deu endereço da juíza
 
O soldado Handerson Lents Henriques da Silva, de 27 anos, preso temporariamente por envolvimento na morte da juíza, se apresentou na manhã de sexta-feira na Divisão de Homicídios (DH) e confirmou à polícia que indicou o endereço dela a outros PMs acusados de envolvimento no crime. Mas afirmou desconhecer o plano para executá-la. A informação foi dada pelo defensor público Leonardo Rosa Melo da Cunha, que vai pedir a revogação da prisão semana que vem.
 
- A prisão foi desnecessária. A participação do soldado no crime foi involuntária - disse o defensor.
 
Segundo o advogado, Lents disse que foi convencido a entrar numa patrulha e mostrar onde a juíza morava porque os policiais militares alegaram que estavam investigando uma briga entre Patrícia e o namorado dela, um PM, em janeiro deste ano. Como Lents participou da ocorrência, era o indicado a levá-los ao local.
 
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