PEC de recursos apenas diminui trabalho dos tribunais superiores, diz WadihDa redação da Tribuna do Advogado (com informações do Jornal do Commercio)23/03/2011 - O presidente da OAB/RJ, Wadih Damous, rebateu nesta quarta-feira, dia 23, o argumento do desembargador Antonio Cesar Siqueira, presidente da Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amaerj), de que a quebra do paradigma das quatro instâncias revisórias evitaria que pequenas causas, como briga de vizinhos, parassem nos tribunais superiores. Para Wadih, a proposta de emenda constitucional (PEC), de autoria do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Cezar Peluso, ao permitir que os processos sejam finalizados e executados após decisão judicial de segunda instância, tem apenas o objetivo de diminuir o trabalho dos tribunais superiores. Segundo ele, para dar efetividade ao processo, bastaria retirar a caução da execução provisória. "Não precisava dar função rescisória aos recursos excepcionais, o que acabará tornando os requisitos desses recursos mais rigorosos e dificultando o acesso ao STJ e ao STF. Assim, me parece claro que a finalidade, como sempre, é reduzir o trabalho dos magistrados. Mais uma reforma processual de cunho corporativo", afirmou.Segundo ele, existem decisões de tribunais de segunda instância "absurdas" e que "precisam ser imediatamente suspensas". "Dizer que os recursos excepcionais não podem ter, em nenhuma hipótese, efeito suspensivo é um insensatez. Qual será o remédio para suspender essas decisões?", questionou. O presidente acrescentou que, ao dificultar o acesso aos tribunais superiores, a PEC vai deixar que a jurisprudência seja consolidada nos tribunais de segunda instância, "o que não é uma boa solução". "Será muito difícil extrair uma posição uniforme de todos os tribunais do País, o que prejudicará a unidade na aplicação do direito, além disso, existem tribunais de segunda instância que ainda cometem absurdos. Efetivamente, essa PEC limitará a atividade do STJ e do STF como uniformizadores da interpretação do direito positivo, e isso não é bom." Diante da sugestão do presidente da AMB, Nelson Calandra, de controlar o tempo de exercício da atividade recursal dos colegas e de delegar a um órgão externo a função de fiscalizar a Ordem dos Advogados do Brasil, Wadih afirmou que a OAB já começa a exercer "mecanismos de controle" da atividade profissional da advocacia a partir do Exame de Ordem, que, segundo ele, já vem sendo hostilizado por certos setores da magistratura."A fiscalização pretendida também o era pela ditadura militar. A força da OAB reside na sua independência de qualquer órgão estatal. A fiscalização é exercida pela própria advocacia. A entidade se mantém com a contribuição paga pelos seus associados, e não com os impostos da população. Não há, portanto, linha de comparação com a fiscalização que a sociedade deve exercer sobre o Judiciário", declarou. O presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Fernando Fragoso, sugeriu outra solução para resolver o problema de volume de trabalho dos tribunais superiores e a demora dos processos: o aumento do número de ministros que atuam nestas instituições, assim como o número de tribunais regionais. "É dever do advogado recorrer até onde não der mais. Além disso, a administração pública é a grande clientela destes tribunais. Se ela parar de recorrer, o serviço destes tribunais vai cair em 60%; e quanto às partes que litigam de má fé, hoje o tribunal já pode impor multas. Além disso, 95% dos recursos propostos pelas partes ficam retidos nos tribunais de Justiça. Já há um política de bloqueio especial", defendeu. O presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, disse que já encaminhou para o Comissão de Estudos Consituicionais a íntegra da PEC proposta por Peluso para os membros estudarem se a proposta é constitucional. O resultado dos debates será divulgado no próximo mês.