26/07/2017 - 12:45 | última atualização em 27/07/2017 - 16:35

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OAB/RJ celebra Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha

redação da Tribuna do Advogado

Foto: Bruno Marins   |   Clique para ampliar
No Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, comemorado nesta terça-feira dia 25, foi realizada na Seccional a atividade Mulheres negras e o poder judiciário, composta por palestras da diretora de Igualdade Racial da OAB/RJ, Ivone Caetano, e da socióloga e professora da Unirio Andréa Lopes da Costa, e discussão de propostas de ação para o combate à discriminação. O evento foi organizado pelo grupo de trabalho (GT) Mulheres Negras da OAB Mulher, coordenado por Marina Marçal, que foi a mediadora dos debates.
 
A presidente da OAB Mulher, Marisa Gaudio, saudou a data. “É muito importante para nós ter esse grupo de trabalho específico sobre as mulheres negras, coordenado pela Marina. As mulheres negras sofrem tipos de discriminação diferentes das sofridas pelas brancas, ou também pelas transexuais, lésbicas. Vão se somando discriminações”, afirmou. O procurador-geral da OAB/RJ, Fabio Nogueira, também esteve presente na ocasião representando o presidente Felipe Santa Cruz. “Espero sinceramente que daqui a alguns anos possamos viver em uma sociedade muito menos machista, sexista e misógina, que seja efetivamente plural, aberta e democrática, onde as opiniões divergentes sejam dignas de igual respeito, em que as pessoas que pensam de forma diferente não sejam vistas como inimigos”, disse.
 
“É muito bom que tenhamos homens aliados na luta contra o machismo, e mulheres brancas aliadas na luta contra o racismo. Isso é um problema de todos, da sociedade”, declarou Marina Marçal, ao iniciar sua fala na abertura do evento. Ela ressaltou que o GT é muito importante porque há convergências com todas, mas existem questões específicas enfrentadas pelas advogadas negras. “As mulheres negras têm o pior salário, e a situação das latinas é ainda pior que a das brasileiras. Vejo aqui rostos negros como o meu, conhecidos e outros que quero conhecer. Somos muitas, precisamos de visibilidade. Perguntei a algumas colegas antes de vir para cá qual é a maior dificuldade na relação com o Judiciário, e a maioria me disse que era o cabelo. Como isso é possível, em 2017? Após iniciar minha transição capilar, já ouvi absurdos do tipo, entrando em uma audiência, o juiz perguntar onde sentaria o réu. Tive que explicar que eu era a advogada. A violência começa aí”, apontou. Em seguida, ela exibiu slides com os rostos e as biografias profissionais de diversas advogadas negras, além de relatos de discriminação que foram enviados ao grupo.
 
Foto: Bruno Marins   |   Clique para ampliar
A diretora de Igualdade Racial da Ordem, Ivone Caetano, deu uma aula de história e de autoestima. “Adoro minha idade, meu cabelo crespo, meu nariz chato, minha pela negra. Sempre agradeço a Deus ter me feito nascer negra. O preconceito racial passa de bisavô para o avo, para o pai, para o filho. E se passa a cultura do agressor, passa também o agredido. A escravidão não pode ser nunca esquecida, não podemos esquecer o que passaram nossos ancestrais. O brasileiro não conhece a história do país, os negros também não conhecem sua história. Um país que foi criado no racismo, no machismo. É importante que a cada dia mais tenhamos poder de fala, para que as pessoas entendam o que passamos. Ninguém é melhor ou pior do que ninguém”, definiu Caetano.
 
A socióloga Andréa Lopes da Costa apresentou uma perspectiva teórica sobre a noção de lugar de fala. “Essa noção não é para impedir a fala de ninguém, mas para dizer de onde falamos. Sou uma mulher negra, de família da classe média baixa. Aliás, é uma marca nossa ao falar que somos negros, trazer a história de quem somos, nossa origem. Existe uma diferença entre ter consciência de ser negro e a consciência política disso, ou seja, entender o que é o preconceito, o que é racismo, conseguir se entender em uma estrutura feita para ser hierárquica. Faço parte de uma geração que foi educada para se acomodar de alguma forma, e não lutar contra o racismo, era uma estratégia de sobrevivência. Os jovens de hoje são muito mais conscientes de sua estética racial, não têm vergonha de seus cabelos, e usam isso de forma muito enfática”, observou.
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