30/09/2024 - 18:23 | última atualização em 30/09/2024 - 18:31

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OABRJ aborda anistia política ao relembrar o golpe militar de 1964

Evento também promoveu o lançamento de livro que narra o período da ditadura sob a perspectiva de um anistiado

Biah Santiago



O Centro de Documentação e Pesquisa da OABRJ realizou, nesta segunda-feira, dia 30, o evento “O legado de terror do Golpe Militar de 64 e a anistia política” para rememorar os anos da ditadura no Brasil. O encontro também promoveu o lançamento do livro “Poemas dos porões”  (Editora Bestiário), de Adail Ivan de Lemos, médico, psicanalista, escritor e anistiado político.

Clique aqui e assista à íntegra do encontro no canal da Seccional no YouTube.


Segundo Lemos, a obra foi elaborada no contexto da ditadura e narra sua perspectiva como um dos milhares de anistiados. O autor critica o autoritarismo e expõe memórias e palavras de um tempo de resistência à opressão militar.


“Os poemas que descrevo no livro são uma forma alternativa de mobilização política, pois, atualmente, discutir com pessoas polarizadas, especialmente com a extrema-direita, é uma perda de tempo”, destacou.


“Durante os governos militares, eles sequer aceitavam os termos 'repressão', 'ditadura' e muito menos 'anistia'. Agora, a extrema-direita pede anistia como se houvesse uma equivalência, uma isonomia entre a que foi concedida à esquerda e a de agora. Não existe nenhuma semelhança nisso, pois uma coisa é anistiar presos políticos, torturados e mortos na ditadura; outra é anistiar pessoas de classe média que fizeram manifestações contrárias à democracia. É nesse cenário que se destaca a relevância da Ordem dos Advogados no respeito à legalidade e para a sociedade.”

O diretor do Centro de Documentação e Pesquisa e vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária (CDHAJ) da OABRJ, Aderson Bussinger, destacou que o lançamento aponta uma direção para a redemocratização no país.


“O lançamento desta obra na OABRJ e outros eventos similares são reafirmações de que não queremos mais uma nova ditadura militar; repudiamos tudo o que venha do autoritarismo e de um regime como o de 1964”, afirmou Bussinger.



“Ainda podemos sentir os reflexos da ditadura, como o ataque aos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 e o golpe parlamentar contra a ex-presidente Dilma Rousseff. Portanto, lançar este tipo de trabalho na Seccional é também um ato de resistência".

O evento contou com palestras que relembraram histórias vividas e estudadas sobre a ditadura militar. Entre os palestrantes estiveram o doutor em Ciência Política, professor da Uerj, desembargador do TJRJ e integrante da Associação Juízes para a Democracia (AJD), João Batista Damasceno; a professora da Universidade Candido Mendes, mestre pela UFF e ativista político-social, Kátia da Matta Pinheiro; e o oficial da Marinha perseguido, Fernando Silveira, filho de Badger da Silveira, ex-governador do Estado do Rio de Janeiro, cassado em 1964.

“A maioria da população desconhece a trajetória da ditadura, que não começou em 1964, pois remonta à escravidão, um dos períodos mais bárbaros da história brasileira. Durante o golpe, os alvos eram os comunistas e os opositores do regime”, observou Kátia.

“A tortura é um crime inafiançável, e o Brasil sempre deixou os torturadores impunes. O conhecimento sobre a ditadura deveria ser obrigatório nos meios acadêmicos, pois milhares de jovens não conhecem os crimes de lesa-humanidade vivenciados na época. Poucas vozes se levantam em relação a esse tema. No livro, Ivan [Lemos] relembra a impunidade dos torturadores, a quem a anistia geral e irrestrita foi concedida. Os torturadores atuais continuam soltos, e é preciso frear essas situações, que persistem desde a colonização do nosso país".

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