10/01/2012 - 17:43

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Moradores de Sapucaia aguardam planos de emergência

O Globo

O futuro dos cinco mil habitantes de Jamapará, distrito de Sapucaia, no Centro-Sul Fluminense, onde um deslizamento de terra atingiu várias casas e deixou pleo menos 13 mortos, é algo tão incerto quanto a data da conclusão de um plano de contingência para o lugar. O prefeito de Sapucaia, Ânderson Zanon, informou que, dentro de muito breve o plano estará pronto, mas não fixou data. Enquanto isso, moradores traumatizados planejam o que fazer daqui para frente.

A dona de casa Maria Laura Kneip, que assistiu à terra e a pedras descerem sobre algumas casas, pensa em mudar com a família da localidade. Seu marido poderia levar Maria Laura e a filha de 11 anos para à casa do pai dele em Jamapará. Maria Laura está na dúvida:

- O prefeito disse que toda Jamapará é área de risco. Então, teremos de sair daqui, talvez tentar a vida em Teresópolis. Meu marido é eletricista, vai ter de formar freguesia em outro lugar - disse Maria Laura, cuja casa está interditada pela Defesa Civil estadual.

Mas a lembrança da tragédia deve reforçar a ideia de mudança.

- Acordamos com as pessoas gritando e correndo de suas casas. E vi o Pablo (um amigo da família de Maria Laura) gritando por ajuda, chamando o pai dele, que, em meio àquele escuridão e a chuva, nada podê fazer. A casa dele foi totalmente soterrada - disse Maria Laura.

A 50 metros do local da tragédia, o inconformismo era visto pelo choro de Tahiana Cunha Carvalho. Ela perdeu os pais (Antônio Cunha e Solange Carvalho) e o irmão de 18 anos (Thiago). No velório na Igreja de Santana, Tahiana estava em estado de choque. No enterro, no Cemitério do distrito, ela descompensou e gritou muito. Na hora, os bombeiros pararam o serviço e ficaram perfilados na cerimônia. Irmão de Solange, Sidnei Carvalho contou que Thiago passava as férias com pais, já que morava em Juiz de Fora, onde estudava.

- Meu sobrinho estava se dedicando a um curso sobre segurança no trabalho. Tinha um grande futuro pela frente.

Subiu para 13 o número de mortos no deslizamento de terra que atingiu nove casas na localidade de Jamapará, distrito de Sapucaia, no Centro-Sul Fluminense. Só na manhã desta terça-feira, foram encontradas mais cinco vítimas do desabamento. Segundo o Corpo de Bombeiros, ainda há mais pessoas desaparecidas. O trabalho de resgate recomeçou no início da manhã com duas retroescavadeiras. De acordo com o secretário estadual de Defesa Civil e comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Sérgio Simões, a prioridade neste momento é encontrar os corpos. Ele passou a noite no distrito e está acompanhando os trabalhos dos bombeiros.

Os corpos das três últimas vítimas ainda não foram identificados. Segundo a Defesa Civil, o corpo da nona e da décima vítimas da tragédia de Jamapará são de Lívia Gomes, de 22 anos e de sua avó, Glória do Nascimento. Elas estavam com os pais da jovem numa das nove casas destruídas pelo deslizamento. Na segunda-feira foram encontrados os corpos de Luiz Carlos Nassifi, de 40 anos, e sua neta, Ana Maria Costa Bela Nassifi, de 3 anos.

Na manhã desta terça, foram velados, na Igreja de Nossa Senhora do Santana, os corpos do casal Antônio Gomes da Cunha, de 49 anos, Solange Carvalho da Cunha, de 48 anos, e de Thiago Carvalho, de 19 anos, filho do casal. Thiago morava e estudava em Juiz de Fora e estava passando férias na casa dos pais. As buscas por cinco pessoas de uma família que se refugiu em um Fusca para evitar o soterramento continuam. O irmão de uma das vítimas, Clóvis Lopes, disse que seu irmão Francisco Edésio, de 46 anos, havia acabado de comprar o carro para aprender a dirigir. Além de Edésio, estão no veículo sua mulher, duas filhas e um cunhado. A casa da família acabou resistindo às pedras e terras que desceram do morro da Rua dos Barros, e o veículo acabou completamente encoberto.

O comandante do Exército e ministro da Defesa interino, Enzo Martins Peri, e o Secretário Nacional de Defesa Civil, Humberto Vianna, se reuniram na manhã desta terça-feira com o prefeito de Sapucaia, Anderson Zanon, para saberem as necessidades do distrito de Jamapará. De acordo com o comandante Enzo Peri, o governo federal já tem verbas disponíveis para a cidade, mas, segundo ele, o importante agora é encontrar os desaparecidos. O prefeito disse que, por enquanto, o mais urgente são cestas básicas para os desalojados. O secretário Humberto Vianna informou que já as está providenciando. Na noite da segunda-feira, o governador Sérgio Cabral ligou para Zanon, para saber o que seria mais necessário para o regate dos mortos.

A Secretaria estadual de Saúde montou um miniposto de atendimento médico na igreja de Jamapará. Além do posto, um Ciep da localidade também está dando suporte aos moradores da região, recebendo os desabrigados. A lista de cadastrados no Programa Saúde da Família vai complementar as informações de moradores para que seja criada uma lista unificada de desaparecidos.

No início da tarde desta terça-feira, a Defesa Civil estadual liberou os moradores da Rua dos Barros, onde ocorreu a tragédia, a retirarem os pertences mais básicos de suas casas, que estão interditadas. Roseni Santiago da Silva saiu do abrigo onde está, no Ciep local, junto com três de seus cinco filhos para pegar documentos e roupas. Segundo ela, a recomendação da Defesa Civil é para fazer isso o mais rapidamente possível. Neste momento, voltou a chover forte na região.

Jamapará em área de risco

Nesta segunda, Zanon disse que todo o distrito de Jamapará está em área de risco de deslizamento. Ele recentemente baixou um decreto, no qual nem a Light nem a Cedae podem fazer serviços em novas ocupações do distrito. Ele afirmou que o município está à espera de verba do governo federal para a construção de novas casas e a retirada de famílias das áreas de risco. O prefeito disse que, diante dessa tragédia, vai pedir recursos ao governo estadual:

- Em outro ponto de Jamapará, eu avisei às famílias que haveria deslizamentos. Estas famílias conseguiram ir para o Ciep mais próximo. Mas, no lugar da tragédia, havia casas de pelo menos 60 anos, e nunca ocorreram deslizamentos como esses.

Governo homologa situação de emergência e cria Força Estadual de Saúde

Diversas regiões do estado vem sofrendo com as fortes chuvas desde o início do ano. Nesta terça-feira, o governo homologou situação de emergência em sete municípios. A situação de emergência foi homologada em Cardoso Moreira, Laje do Muriaé, Santo Antônio de Pádua, Aperibé, Itaperuna, Italva e Miracema, regiões do Norte e Noroeste do estado. Nesta terça-feira, o vice-governador e coordenador de infraestrutura, Luiz Fernando Pezão, se encontrou com os ministros da Integração Nacional, Fernando Bezerra, e dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, no aeroporto de Campos dos Goytacazes, na Região Norte Fluminense. Eles sobrevoaram a comunidade de Três Vendas, em Campos, e o distrito de Outeiro, em Cardoso Moreira, para conhecer as necessidades emergenciais dos municípios atingidos pelas chuvas e definir ações para minimizar o impacto das enchentes, sobretudo na BR-356, onde o asfalto cedeu.

Também nesta terça-feira o governo anunciou criação, por meio de decreto, da Força Estadual de Saúde, subordinada à Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ). Com a publicação, a Força, que tem o objetivo de atender demandas emergenciais em casos extremos de desastres naturais ou eventos epidemiológicos, já pode ser convocada.

- Precisamos ter colaboradores para trabalhar para isso, remunerados por plantões. É o caso, por exemplo, das cidades que sofrem pelos efeitos das chuvas, ou, por exemplo, com epidemia de dengue. Se tiver ocorrência e necessidade, a Força será acionada para dar suporte e apoio ao município que está desassistido. Cabe ao prefeito fazer a requisição e ao governo avaliar e acionar a Força - explicou em nota o secretário Sérgio Côrtes.

A Força Estadual de Saúde vai monitorar, orientar tecnicamente o envio de insumos, profissionais, recursos e, se preciso, hospitais de campanha às localidades afetadas. Para isso, a Secretaria vai criar, com auxílio dos municípios, um cadastro de profissionais qualificados e treinados para que a Força possa agilizar a mobilização de recursos humanos e materiais nas áreas afetadas, não só para atender a pessoas feridas, como para evitar e conter a proliferação de doenças.

 
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