23/10/2009 - 16:06

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Ministério da Justiça apoia fim de prisão de pequenos traficantes

Ministério da Justiça apoia fim de prisão de pequenos traficantes

 

 

Do jornal O Globo

 

23/10/2009 - O Ministério da Justiça decidiu apoiar o fim da pena de prisão para pequenos traficantes de drogas que não tenham cometido atos de violência e não apresentem vínculo com organizações criminosas.

 

A ideia é mudar a lei para oferecer penas alternativas a essas pessoas, o que evitaria que elas sejam recrutadas pelas facções que dominam muitos presídios brasileiros. Embora o governo defenda a tese, a proposta não será apresentada como iniciativa do Executivo ao Congresso. Caberá ao deputado Paulo Teixeira (PT-SP), assinar o projeto.

 

O texto está em estudo, mas deve exigir que os réus apresentem bons antecedentes para terem direito à pena alternativa. O secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Pedro Abramovay, disse esperar que a mudança seja aprovada até a metade do ano que vem.

 

"Nós sabemos o que acontece nos presídios: as pessoas são detidas com pequenas quantidades de droga e acabam entregues de mão beijada para as organizações criminosas. É preciso separar o pequeno do grande traficante. Não haverá projeto de iniciativa do governo, mas vamos apoiar a proposta de mudança no Congresso", disse Abramovay.

 

 

Mobilização deve ser para peixes grandes", diz deputado

 

Para o deputado Paulo Teixeira, a alteração na lei antidrogas permitirá que polícia, Ministério Público e Judiciário concentrem esforços no combate ao crime organizado. Ele disse que a proposta não é ideológica e visa a tornar mais eficiente a repressão aos grandes traficantes.

 

"O aparato do Estado deve ser mobilizado para pegar os peixes grandes, não os pequenos. Estamos prendendo muitos bandidos pés de chinelo e sobrecarregando a polícia e a Justiça. É uma questão pragmática que precisamos enfrentar", disse.

 

A mudança foi discutida em seminário encerrado anteontem no Congresso e já enfrenta resistências.

 

O deputado Paes de Lira (PTC-SP), coronel da PM, protestou ontem na tribuna: "É preciso decisão governamental para combater o crime sem quartel, parar de passar a mão na cabeça dos usuários de entorpecentes e endurecer a lei".

 

Se aprovada, esta será a segunda flexibilização das leis antidrogas desde 2006, quando a pena de prisão foi abolida para usuários flagrados com drogas para o próprio consumo.

 

A lei atual ainda proíbe que o benefício seja estendido aos pequenos traficantes - que, na melhor das hipóteses, podem deixar a cadeia após um ano e oito meses de pena.

 

Estudo encomendado pelo governo à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e à Universidade de Brasília (UnB) afirma que 67,9% dos condenados por tráfico não são acusados de outros crimes, como associação para o tráfico, que caracteriza o envolvimento com quadrilhas. Foram analisados 103 acórdãos no Superior Tribunal de Justiça. O percentual será usado para defender a tese de que a repressão estaria concentrada nos pequenos traficantes.

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