03/10/2012 - 15:23

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Maurício Grabois é homenageado na Alerj em dia de centenário

redação da Tribuninha

Nesta terça-feira, dia 2, quando completaria cem anos, Maurício Grabois - fundador do PCdoB, deputado constituinte de 1946 e desaparecido político da ditadura militar - foi homenageado na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) com o título de cidadão do estado, entregue a sua filha Victória Grabois, presidente do grupo Tortura Nunca Mais. Os pedidos de abertura dos arquivos e de justiça às vítimas da ditadura deram o tom à cerimônia. A presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ, Margarida Pressburguer, representou a Seccional no evento. 
 
Grabois ingressou cedo na vida política e aos 22 anos já era dirigente do Partido Comunista do Brasil. Foi o responsável por liderar a bancada comunista na Assembleia Constituinte de 1945-1946. Em 1967, aos 55 anos, tornou-se líder político da guerrilha que se formava na região do Araguaia, ao sul do estado do Pará.
 
Mesmo após repressões das tropas militares e de ter perdido seu filho, André Grabois, nos confrontos do Araguaia, não abandonou o comando da operação e em 25 de dezembro de 1973 foi fuzilado próximo ao acampamento de sua equipe, aos 61 anos de idade. Com Grabois, outros três companheiros tombaram naquele dia, entre eles seu genro Gilberto Olímpio de Maia. Até hoje, Maurício Grabois é considerado desaparecido político.
Em 2010, em campanha pela abertura dos arquivos da ditadura, organizada pela OAB/RJ, Osmar Prado interpretou Maurício Grabois.
 
Ao som de As rosas não falam, de Cartola, o deputado estadual Paulo Ramos (PDT) entregou o título de cidadão nas mãos de Victória Grabois, pesquisadora da UFRJ e filha de Maurício, afirmando que "não haverá democracia enquanto a verdade não for conhecida".
 
"Nesta batalha perdi meu pai, meu irmão e meu marido. A criação de uma Comissão da Verdade é uma vitória para os familiares, mas ainda é pouco. A luta pela verdade e pela justiça é longa, mas não podemos descansar enquanto não enterrarmos nossos mortos e descobrirmos quem foram seus algozes", assinalou Victória Grabois.
 
Segundo ela, a OAB sempre se manteve ao lado dos familiares de desaparecidos políticos e à frente da luta pela abertura dos arquivos. "Em 1980, a primeira caravana de familiares chegou à região do Araguaia, para tentar colher informações sobre os desaparecidos, graças ao apoio da OAB", relatou.
 
Relatos de uma vida de batalha
 
"Em toda sua vida Grabois teve a marca da luta comunista como bandeira", ressaltou Elizabeth Silveira, representante do grupo Tortura Nunca mais. "Maurício não abandonou os seus companheiros. Ficou até o fim e é desparecido político como tantos outros. Até hoje, as famílias não receberam as informações oficiais sobre o que aconteceu no Araguaia. Não sabemos quem foram os responsáveis e o que foi feito em nome do estado. Não queremos meias verdades. Não queremos somente o possível. Gostaria de fazer uma campanha de reconhecimento a todos os combatentes que tombaram nesta luta", disse.
Nesta batalha perdi meu pai, meu irmão e meu marido. A criação de uma Comissão da Verdade é uma vitória para os familiares, mas ainda é pouco
Victória Grabois
presidente do Grupo Tortura Nunca Mais
 
Sueli Bellato, vice-presidente da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça, afirmou que se sente honrada ao participar de cerimônias em que se homenageiam todos aqueles que não se curvaram diante da tirania. 
 
O sobrinho e o neto de Grabois, Vitor e Igor, respectivamente, também deram seus depoimentos. "Afirmar o Direito do povo brasileiro à verdade não é vingança é justiça", disse Vitor. "Meu avô continuou lutando mesmo sabendo que seu filho havia morrido por aquela causa. Tenho orgulho de pertencer a esta família, mesmo sem tê-lo conhecido", assinalou Igor.
 
O fato de a homenagem ter sido realizada na Alerj foi destacado pelos representantes do Centro pela Justiça e o Direito Internacional, Beatriz Affonso, e da Fundação Maurício Grabois, Carlos Henrique Tibiriçá. "Nesta casa ele representou a democracia ao participar da Assembleia Constituinte de 1946. E neste mesmo plenário todos os mandatos de parlamentares considerados comunistas foram cassados na ditadura. Hoje, homenageamos aqui um dos maiores comunistas que este país já teve", frisou Tibiriça.
 
Momentos de comoção marcaram a homenagem ao centenário de Grabois na Alerj, como as apresentações de um coral, que sob a regência da maestrina Cláudia Alvarenga, interpretou a canção evocativa da resistência aos nazistas; da cantora Hellen Nais com a música Minha Alma (Marcelo Yuka); e da leitura, pelo ator Fernando Silva, do poema Marabá - encontrado nas matas do Araguaia após a guerrilha e sem assinatura de autor, provavelmente para preservar a identidade do combatente. 
 
Também participaram da cerimônia a integrante da Comissão da Verdade, Rosa Cardoso; o presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Maurício Azedo; o presidente do Instituto dos Defensores dos Direitos Humanos, João Tancredo; o advogado defensor dos direitos humanos João Luiz Duboc Pinaud, laureado mês passado pela OAB/RJ com a Medalha Sobral Pinto; a socióloga Maysa Machado, aluna de Grabois na faculdade; o secretário-geral do PCdoB, Ivan Pinheiro; entre outros.
 
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