10/04/2012 - 15:03

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Lei Seca multa mulher que não soprou o bafômetro por doença

jornal Extra

Nas blitzes da Lei Seca, o limite aceito na hora de soprar o bafômetro é de 0,1mg de álcool por litro de ar. Mas, para Esther Náveira e Silva, a tolerância foi zero. E não só no teste de teor alcoólico. A analista de sistemas de 36 anos tem hemiplegia. O lado esquerdo do seu corpo é paralisado e sua fala, prejudicada.
 
Ela foi parada numa blitz, no Jardim Botânico, na madrugada da última quinta-feira. A impossibilidade fisica de soprar o bafâmetro, a dificuldade para se comunicar, o adesivo indicando que o carro era conduzido por uma pessoa com deficiência, a afirmação de que não bebe, nada disso foi suficiente. Esther teve a carteira apreendida, foi multada em R$ 937,70 e acusada de estar bêbada.

Sozinha, sem ser entendida, Esther quase teve o carro apreendido e ficou a pé às 3h15m.

Na hora, os agentes queriam levar o carro também. Insistiram muito, mas consegui que um amigo fosse me buscar no local conta ela, ajudada pelo irmão, Lenilson.

Esther mora em Botafogo. Vive sozinha desde os 26 anos e dirige desde os 18. Ela acredita que, pela forma de falar e andar, os agentes acharam que estava embriagada. Além do adesivo, um código na carteira de habilitação indica que ela é portadora de deficiência.

Eles viram o adesivo no carro, mas continuaram dizendo que eu estava bêbada e iam me multar conta. Após ser parada e não conseguir fazer o teste, Esther tentou, por quase uma hora, explicar aos agentes que não conseguiria soprar o bafâmetro. Ela ainda tentou que um deles falasse ao telefone com sua mãe, mas eles teriam se negado. "Sempre que for parada vou ter que passar por isso?", indaga ela.

Segundo médico, Esther não tem movimentos da boca

Há dez anos, Esther é tratada pelo médico neurologista Antonio Luiz Werneck. Ele explica que, durante o parto, o cérebro da analista não recebeu a oxigenação devida e, por isso, ela nasceu com Encefalopatia Crônica da Infância.

Desde o seu nascimento, não tem os rnovimentos do lado esquerdo do corpo e teve fala, olfato e paladar prejudicados pela perda da "mímica facial oral". "Ela não tem nenhuma condição de assoprar nada porque não tem os rnovimentos da boca. A doença torna inviável a realização do teste", afirma.
 
O médico Rogério Pfaltzgraff, neurologista da Rede D'Or, explica que a lesão no cérebro de Esther é difusa. "A lesão do lado direito afetou os movimentos do lado esquerdo do seu corpo, causando a hemiplegia", explica. "E uma outra lesão, no lado esquerdo, afetou a fala e os movimentos da boca".
 
Três anos atrás, para ajudar no desenvolvimento da fala de Esther, seu neurologista receitou um remédio controlado, genericamente usado para pacientes com mal de Alzheimer. Com o uso do medicamento, a paciente é orientada a não ingerir qualquer tipo de bebida alcoólica. De acordo com Rogério Pfaltzgraff, a ingestão de álcool, combinada com o uso contínuo do remédio, pode provocar alterações na absorção do medicamento, mal-estar intenso, fortes dores de cabeça, náuseas e vómito.

Constrangimento

Por ser deficiente física, o carro faz muita diferença na capacidade de Esther de se locomover pela cidade. O advogado Armando de Souza, ex-presidente da Comissão de Trânsito da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio (OAB-RJ), explica que ela pode entrar com uma ação contra o município.

Apenas com a comprovação médica da doença e da impossibilidade de ingestão de álcool ela pode provar que está certa explica.

Para o advogado, além de pedir o cancelamento da multa, a devolução da carteira e anulação dos pontos, ela ainda deve entrar com uma ação por danos morais.

Ela passou por um constrangimento no local, não há dúvida. Há um impedimento físico. Além disso, ainda está sendo prejudicada por não poder dirigir diz.

Segundo Esther,uma agente da Lei Seca gravou todo o procedimen to na blitz. O advogado afirma que Esther pode pedir o uso desse vídeo como prova de que tentou explicar seu caso e realizar o teste após ser parada.

Procurado pelo Extra, o coordenador da Lei Seca, major Marco Andrade afirmou que ira apurar o caso.
 
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