Lançamento da campanha pela Verdade reúne 500 pessoas e emociona participantes Da redação da Tribuna do Advogado16/04/2010 - "Não há cova funda / que sepulte / a rasa covardia / Não há túmulo que oculte / os frutos da rebeldia / Cai um dia em desgraça / a mais torpe ditadura / quando os vivos saem à praça / e os mortos da sepultura". Com a leitura dos versos do poema Os desaparecidos, de Affonso Romano de Sant'Anna, o conselheiro federal Marcus Vinicius Cordeiro abriu o ato público de lançamento da Campanha pela Memória e pela Verdade em prol da abertura dos arquivos da ditadura militar. Em discurso emocionado para mais de 500 pessoas, Marcus Vinicius lembrou o drama das famílias em busca de informações sobre parentes presos e torturados durante a ditadura e o direito de que elas conheçam o que aconteceu, como aconteceu, quem foram os responsáveis e qual o paradeiro de mais de uma centena de desaparecidos. A emoção dominou toda a cerimônia, que contou com a presença maciça das famílias dos desaparecidos políticos. A cada citação de nome das vítimas, um coro de vozes se ouvia: "Presente!", diziam mães, pais, irmãos, mulheres e filhos que não desanimaram depois de décadas de busca por notícias oficiais. Felipe Santa Cruz, presidente da Caarj, chorou e levou às lágrimas ao falar de seu pai, Fernando Santa Cruz, que desapareceu após ser preso, em 1974. "Dessa dor e desse processo de luta contra a ditadura nasceu uma tribo forte, que não pode esmorecer, e essa campanha vai permitir que aqueles algozes saiam de seus buracos. Devem ao país essa explicação. Tenho orgulho de fazer parte desse movimento, orgulho de pertencer à Ordem dos Advogados. Nunca a minha carteira de advogado teve tanto valor como agora", disse Felipe com a voz embargada, pedindo desculpas por não ter mais condições de continuar a falar. Como mestre de cerimônia do evento, o diretor-tesoureiro da Seccional, Marcello Oliveira, ressaltou a importância institucional da Ordem na luta pela abertura de arquivos e fez um apelo para que, não só a advocacia, mas toda a sociedade esteja engajada no debate. "Queremos que essa campanha contamine o país de forma que todos os governantes possam ouvi-la", enfatizou. O presidente da Seccional, Wadih Damous, saudou os participantes do ato público e reafimou o compromisso da Ordem com as demandas sociais. "O povo brasileiro sabe que a OAB nunca se limitou às questões corporativas e se fez presente quando o povo dela precisou". Wadih contou que a ideia da campanha nasceu a partir da manifestação contrária do Ministério da Defesa ao Plano Nacional de Direitos Humanos, apresentado pelo ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria especial de Direitos Humanos da Presidência da República. "Naquele momento, decidimos que a OAB não iria virar as costas para essa questão da sociedade. Queremos, a partir da advocacia, esse movimento disseminado pelo país. Não podemos esquecer o que aconteceu no Brasil na ditadura, os jovens precisam saber que houve perseguições, torturas e assassinatos. Aquela ditadura não montou apenas um aparelho repressivo, montou também um aparelho publicitário, e temos o direito à memória e à verdade do que ocorreu, para que jamais se repita entre nós" - disse Wadih, aplaudido de pé ao final de seu discurso de improviso. Presente à cerimônia, Vannuchi recebeu a solidariedade da diretoria da OAB/RJ, do presidente do Conselho Federal, Ophir Cavalcante, e do público que lotou o 9º andar da sede da Seccional. Compuseram a mesa de abertura, além do ministro e dos presidentes do Conselho Federal e da OAB/RJ, o ex-presidente do OAB nacional Eduardo Seabra Fagundes; a vice-presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Sueli Bellato; a presidenta do grupo Tortura Nunca Mais, Cecília Coimbra; o presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Henrique Maués; o presidente da Associação Brasileira da Imprensa (ABI), Maurício Azedo; o presidente da Caarj, Felipe Santa Cruz, o vice-presidente da OAB/RJ, Sérgio Fisher; representantes estudantis e diretores da OAB/RJ. A campanha, promovida pela Seccional com o apoio da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, veicula - nos cinemas dos grupos Estação e Unibanco e nas emissoras de TV Globo (e canais da Globosat), Brasil, Senado e MTV, desde sexta-feira, filmetes com artistas - Fernanda Montenegro, Glória Pires, Eliane Giardini, Mauro Mendonça, José Mayer e Osmar Prado – interpretando desaparecidos políticos e divulgando o abaixo-assinado que está disponível no site da OAB/RJ.