20/06/2012 - 13:53

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Juventude a postos pela verdade sobre o período da ditadura

redação da Tribuna do Advogado

A irreverência e as músicas adaptadas de melodias conhecidas, como a que dizia: Eu só quero é ser feliz, poder conhecer a história do país; e poder me orgulhar, acabar com a impunidade do regime militar deixavam claro de quem partia o movimento conhecido como "escracho", realizado na manhã desta terça-feira, dia 20, para denunciar um dos ex-agentes do Estado apontados como torturadores de presos políticos durante a ditadura militar: dos jovens.
 
Inserida no contexto da Cúpula dos Povos e contando com a participação de diversos movimentos sociais, como a Via Campesina, organização internacional de camponeses, a manifestação, organizada pelo Levante Popular da Juventude, junto à Articulação Nacional pela Memória, Verdade e Justiça, contou com a participação de cerca de duas mil pessoas, segundo informações da Polícia Militar.
 
O protesto partiu da Avenida Pasteur para a Rua Lauro Müller, em Botafogo, onde fica o prédio em que mora Dulene Aleixo Garcez dos Reis, tenente da Infantaria do Exército em 1970, reconhecido como um dos participantes das sessões de tortura que resultaram na morte, nas dependências do DOI-Codi, na Tijuca, do jornalista e secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Mário Alves. 
 
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'É muito importante que essa bandeira esteja na mão dos jovens. É uma forma mais do que legítima de se fazer justiça'
Garcez foi apontado, também, como um dos torturadores do jornalista Cid Benjamin, que foi preso em abril de 1970 e hoje é chefe do Departamento de Jornalismo da OAB/RJ.
 
Entre os que aderiram à manifestação no meio do caminho estava o ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), preso na década de 60, Eunício Precílio Cavalcante. Emocionado, ele, fez questão de saudar os integrantes do Levante que conduziam a passeata: "É muito importante que essa bandeira esteja na mão dos jovens. É uma forma mais do que legítima de se fazer justiça".
 
Segundo Paulo Henrique Oliveira, um dos organizadores do movimento, a realização do "escracho" no período da Rio+20 e da Cúpula dos Povos é muito importante: "Além de reunirmos várias entidades que estão no Rio de Janeiro, ressaltamos que o contato com a memória e a verdade é essencial para o povo brasileiro, como todos os outros temas que estão sendo tratados nas conferências".
Foto: Lula Aparício
 
Paulo acredita que mostrar ao povo quem estava envolvido nas torturas dá sustentação ao funcionamento da Comissão da Verdade: "Esses criminosos levam sua vida tranquilamente sem nenhum julgamento pelo que fizeram". Ele frisa que partir da juventude diferencia o ato e mostra a tendência a um posicionamento de cobrança da nova 
geração.
 
O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu, presente ao ato, concorda e classifica o reconhecimento dos responsáveis por torturas como "didático": "Não é uma luta pelo passado. É uma luta em nome do passado pelo futuro do Brasil. Ela movia a geração que era jovem no período da ditadura e permanece hoje, encorporada em uma outra. Não se trata de revanche ou vingança, mas de justiça".
Foto: Lula Aparício
 
O respaldo institucional da OAB/RJ ao movimento foi dado no último dia 5, pelo presidente Wadih Damous, ao receber pedido nesse sentido do grupo de ativistas. Segundo Wadih, "os escrachos acabam por substituir a justiça que o Supremo Tribunal Federal (STF) deveria ter feito e não fez, ao decidir que torturadores estão sob o abrigo da Lei de Anistia".
 
 
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