20/06/2012 - 16:57

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Juíza do TRT, Sayonara critica divisão sexual do trabalho

redação da Tribuna do Advogado

Um dos debates incluídos na agenda oficial da Cúpula dos Povos, sobre a condição do trabalho feminino na atual ordem sócio-laboral a partir de uma visão latina e brasileira, foi realizado nesta quarta-feira, dia 20, na OAB/RJ, e contou com a participação da desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-1) Sayonara Grillo, que criticou a diferenciação entre homens e mulheres no ambiente de trabalho.
 
Segundo Sayonara, desde a Constituição de 1988, muitos foram os avanços em relação à vida profissional das mulheres, mas a situação das trabalhadoras ainda está longe de ser a ideal
 
A desembargadora Sayonara Grillo  |  Foto: Francisco Teixeira
"Há uma divisão sexual do trabalho", disse ela, citando um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que traça a porcentagem de homens e mulheres envolvidos nos dois extremos da relação de trabalho no Brasil: aqueles que são contratantes e os que atuam nas funções menos reconhecidas, como o trabalho doméstico. "Os dados mostram que 94% dos trabalhadores domésticos são mulheres. Enquanto na faixa dos empregadores, 69% são homens. Trata-se da expressão numérica da divisão sexual”, afirmou Sayonara.
 
Além dessa divisão, a desembargadora citou outras situações que podem caracterizar discriminação por gênero, como a desigualdade salarial, a dificuldade de ascensão a cargos superiores e a permanência de estereótipos no mercado de trabalho. "Recentemente, vimos o caso de uma empresa que divulgou no jornal vagas para gerente. No anúncio, havia uma foto de uma gravata, deixando explícita a ideia de que o recrutamento estava restrito aos homens", exemplificou.
 
O principal fator responsável por essas situações é, na visão de Sayonara, o patriarcalismo da sociedade brasileira: "O Brasil ainda não ratificou a Convenção 156 da Organização Internacional do Trabalho, que analisa o papel de homens e mulheres nas famílias. Isso demonstra nosso atraso em relação à política de gêneros, algo que se reflete no mercado de trabalho e até mesmo na jurisprudência da Justiça Trabalhista".
 
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'Brasil ainda não ratificou convenção da OIT que analisa papel de homens e mulheres nas famílias', diz Sayonara
Segundo a desembargadora, há casos de julgados do Tribunal Superior do Trabalho (TST) nos quais a mulher é definida como a responsável pela criação dos filhos e, por isso, deve encontrar uma atividade que não a impeça de exercer essa função. "Esse exemplos deixam claro como o modelo patriarcal ainda é reproduzido, não só nos empregos, mas em diversas instituições, inclusive do Judiciário. Ainda é grave a diferenciação entre homens e mulheres no país", analisou. 
 
Também participaram do debate a professora Lydia Guevara, de Cuba, e a advogada Mariana Muñoz, da Colômbia, além do conselheiro da Seccional, Nilson Xavier, que presidiu a mesa, e do advogado Bernardo Campinho, relator do debate.
 
O relatório do debate será entregue aos organizadores da Cúpula dos Povos.
 
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