13/09/2011 - 12:35

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Juíza: três PMs indiciados; polícia agora busca armas

O Globo

Policiais da Divisão de Homicídios ocuparam ontem por cerca de 15 horas o 7º BPM (São Gonçalo) para tentar achar as armas usadas no assassinato da juíza Patrícia Acioli, executada com 21 tiros, na porta de casa, em Niterói, no dia 11 de agosto. A operação é considerada um passo decisivo na investigação que, ontem, foi concluída com o anúncio de que três policiais do batalhão foram os autores do crime. Eles já estão presos. Foram recolhidos 695 pistolas e revólveres na unidade e vasculhados os armários dos PMs.
 
Durante a ação, foram apreendidas armas calibre 40 e 38. A medida, determinada pela Justiça, foi realizada 24 horas depois de o tenente Daniel dos Santos Benitez Lopes e de os cabos Sérgio Costa Júnior e Jefferson de Araújo Miranda, lotados no 7º BPM, terem a prisão decretada, sob a acusação de participarem diretamente da morte da juíza. Os três já estavam presos no Batalhão Especial Prisional (BEP), da PM, em Benfica, acusados de outro homicídio, em São Gonçalo. Eles foram levados ontem para a Divisão de Homicídios, na Barra da Tijuca, onde passaram a noite e vão prestar depoimento hoje.
 
No batalhão, as armas foram levadas por peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, que acompanhavam os policiais da DH. O objetivo é fazer um confronto balístico com projéteis e cartuchos encontrados no local do assassinato e no corpo de Patrícia Acioli. Os policiais também procuram armas calibre 45, usadas no crime. A operação no batalhão durou 15 horas porque os agentes só deixaram o local quando chegaram outras 450 armas, para repor o estoque do batalhão.
 
Agentes vasculham imóveis de acusados
 
Durante todo o dia, agentes cumpriram outros 15 mandados de busca e apreensão em endereços em São Gonçalo, Maricá e nos bairros de Senador Camará e Jacarepaguá. Os alvos foram imóveis dos acusados e de parentes deles.
 
O tenente Benitez e os cabos Sérgio Costa e Jefferson de Araújo terão que comparecer a uma audiência de instrução e julgamento pela acusação do assassinato de Diego de Souza Beliene, de 18 anos, no bairro do Salgueiro, em São Gonçalo, em junho. O juiz Fábio Uchoa, que substituiu Patrícia Acioli no 4º Tribunal do Júri de São Gonçalo, marcou a audiência para o dia 30.
 
O delegado Felipe Ettore, titular da DH, informou ontem, durante entrevista coletiva na sede do Tribunal de Justiça, que o tenente e os dois cabos teriam planejado o crime com pelo menos 30 dias de antecedência. Ettore garantiu que os PMs estiveram no condomínio da juíza, em Piratininga, um mês antes do crime e usaram um carro do 12º BPM (Niterói), sem GPS, para fazer o reconhecimento do local.
 
Os três PMs fazem parte de um grupo de oito que estão presos acusados do assassinato de Diego. O caso, inicialmente, foi registrado como auto de resistência (morte em confronto com a polícia).
 
"O que nos interessa é a busca da verdade. Temos a obrigação de atuar e enfrentar um crime sério como esse, com o qual a Justiça acabou sendo atingida", disse o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.
 
Segundo as investigações, o grupo formado pelos três policiais se dividiu para executar o crime: Daniel e Sérgio usaram uma motocicleta, enquanto Jefferson deu cobertura num carro particular. A confirmação da ação e de que o crime foi planejado chegou depois da quebra do sigilo telefônico dos envolvidos. No dia do crime, os três estavam próximo ao Fórum. Eles foram flagrados ainda seguindo o carro da juíza durante todo o trajeto - de São Gonçalo até Piratininga - por câmeras de vigilância, cujas imagens estão em poder da polícia.
 
O presidente da Associação de Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amerj), desembargador Antonio Cesar de Siqueira, disse que a polícia já desconfiava do trio há pelo menos 20 dias. O presidente do TJ, Manoel Alberto Rebêlo dos Santos, argumentou que, se a juíza estivesse sendo acompanhada de uma escolta, o crime também seria cometido.
 
"Não faria diferença. A escolta previne, mas, infelizmente, não impede", disse Manoel Alberto.
 
O primeiro mês da morte de Patrícia Acioli também foi marcado por homenagens e indignação da família com os resultados da investigação apresentados ontem pela polícia. Uma missa na Igreja da Candelária, no Centro, reuniu parentes e amigos da magistrada.
 
"A família não se satisfaz com o resultado apresentado pela investigação policial. Não preenche um décimo de nossas expectativas. Para nós, a investigação está absolutamente em aberto. A família está convicta de que houve uma ação premeditada de gente maior no assassinato. Só apresentaram policiais que estavam presos porque Patrícia já os havia mandado prender", disse o primo de Patrícia, o jornalista Humberto Lourival.
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