Uma emocionante celebração à solidariedade. Assim pode ser resumido o ato simbólico realizado nesta quarta-feira, dia 30, na sede da OAB/RJ, em homenagem à ativista alemã Britta Lutzov, de 73 anos, que fez parte da Anistia Internacional e amparou refugiados políticos no Chile e na Alemanha no período em que os países da América Latina eram regidos por ditaduras militares. "A Britta não foi somente generosa. Ela simplesmente se opôs a uma visão dominante na sociedade alemã de que dar asilo para 'terroristas' era a pior coisa que a população poderia fazer. E trazê-la para o Brasil para agradecer publicamente por isso era uma vontade nossa que vinha de muito tempo", explicou a ex-militante Marijane Vieira Lisboa. Juntamente a outros que foram ajudados pela ativista, ela faz parte de um grupo que arrecadou fundos para custear sua viagem ao Brasil, incluindo uma visita a Foz do Iguaçu, no Paraná, antigo sonho de Britta. Também ex-refugiado, o jornalista Fernando Gabeira frisou que o ato não representava somente a luta contra a ditadura, mas também a importância da ajuda ao próximo: "Creio que a Britta não era comunista e talvez nunca vá ser. Ela fez o que fez por questões ideológicas, não nos via como peça da luta mundial do socialismo. Ela nos viu como seres humanos desamparados que precisavam de ajuda". O diretor da Anistia Internacional no Brasil, Átila Roque, se disse emocionado de participar do ato pouco tempo após a criação da Comissão da Verdade pelo Governo Federal. "Britta encarna a solidariedade e o comprometimento político de muitas pessoas. Me sinto honrado de estar aqui, fazendo parte de um movimento que tem ela em sua história e em um momento em que o país começa a jogar luz sobre o seu passado". A emoção ficou por conta dos depoimentos de diversos ex-militantes apoiados pela ativista. Entre eles, Maria América Ungaretti, que foi acolhida grávida por Britta em sua casa. O ato ainda contou ainda com a presença do chefe do departamento de comunicação da Seccional e também ex-exilado político, Cid Benjamim; da vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais, Cecilia Coimbra, e do ex-procurador-geral de Justiça do Rio Antônio Carlos Biscaia. Intimada a falar, a encabulada Britta se limitou a agradecer aos amigos pela homenagem, sem se dar conta de que, por sua presença, os agradecidos eram os presentes naquele plenário.