20/07/2015 - 12:36 | última atualização em 20/07/2015 - 14:29

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À frente, passo a passo - Felipe Santa Cruz

jornal O Globo

O sentimento de tempos ruins é mundial. Está no ar, vem da instabilidade econômica, do preço do petróleo, da falta de credibilidade da política. E esse sentimento recrudesceu no Rio de Janeiro. Uma crise de pessimismo espalha-se pela cidade, especialmente depois dos reiterados esfaqueamentos ocorridos no estado.

Esses crimes, por sua simbologia, contaminaram o ambiente, tomaram conta das conversas. É hora, contudo, de parar para enxergar saídas. O Rio de Janeiro não pode sofrer ainda mais. Não podemos desconstruir um modelo de segurança pública que está no caminho certo, embora ainda precise ser muito aprimorado. Ninguém quer de volta um Rio tutelado pelo tráfico, com uma polícia completamente destreinada e territórios verdadeiramente abandonados pela política de segurança.

A realidade é difícil, mas temos de olhar o passado para percebermos o quanto progredimos nos últimos anos. Hoje, observamos uma Polícia Civil mais equipada, um corpo pericial, investigações mais modernas e o uso mais eficiente da informática. Em breve, cidadãos - em especial, os advogados - poderão demandar boa parte dos atendimentos da Polícia Civil através do site da própria polícia. Realidade impensável há poucos anos e que começou a ser transformada a partir do projeto da Delegacia Legal, chegando hoje à moderna Cidade da Polícia.

Comparados os números de maio de 2015 com os do mesmo mês de 1991, vê-se que os homicídios caíram quase pela metade (344 contra 650, respectivamente) em nosso estado, segundo o “Mapa da Violência" do Instituto de Segurança Pública. Em relação a maio de 2014, também foram registradas quedas nos índices de roubos de veículos (-20,1%) e de transeuntes (-22,3%), só para citar alguns dos mais sensíveis no cotidiano da população. E por falar da polêmica sobre armas brancas, devemos lembrar também que o Rio é o estado que menos se mata com facas e peixeiras em todo o Brasil.

A Polícia Militar não avançou tanto, que o diga o drama ainda encoberto dos autos de resistência, mas basta rever as imagens do ônibus 174, há pouco mais de uma década, para observar que o Bope de então não possuía nem mesmo coletes à prova de bala.

Nem tudo é uma maravilha, mas avançamos. Isso é inegável.

Não aceito entrar na “onda" de que o Rio é o pior lugar do mundo para se viver, como alguns, infelizmente, já voltam a falar. Moramos em um Rio de Janeiro beneficiado pela política do petróleo, por uma política correta de reconstrução do estado e pela democracia. Uma cidade às vésperas de realizar o maior evento esportivo do mundo.

Temos de continuar o caminho de repactuação contra a violência, do desarmamento, da retomada institucional das comunidades pelo Estado. E cobrar deste mesmo Estado políticas sociais efetivas de inclusão da população carente. Isso não depende só do Estado, depende também da sociedade.

Não podemos deixar de acreditar na perspectiva histórica de evolução “tijolo por tijolo". Não há solução mágica e já está mais do que na hora de superar a síndrome do “vai dar errado”. É urgente sustentar essa reconstrução com atitude e discurso responsável. O hoje é melhor que o ontem e o amanhã será melhor ainda. Devemos seguir em frente.

*Felipe Santa Cruz é presidente da OAB/RJ.
Artigo publicado no jornal O Globo, em 13 de julho de 2015. 
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