05/02/2013 - 10:15 | última atualização em 05/02/2013 - 12:33

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'Foi uma mentira terrível, diz Fonteles sobre a versão oficial do caso Paiva

jornal O Globo

Documento produzido pela Comissão da Verdade atesta que o ex-deputado Rubens Paiva foi torturado e morto nas dependências do DOI-Codi do I Exército, no Rio de Janeiro, em janeiro de 1971, depois de ter sido preso pelo Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa). A constatação foi feita pelo coordenador da comissão, Cláudio Fonteles, a partir da análise de documentos da Aeronáutica e do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI). Os papéis, na avaliação de Fonteles, desmentem a versão oficial da época da ditadura sobre o desaparecimento de Rubens Paiva.
 
Para Fonteles, o novo documento reforça a comprovação de que a explicação dos militares é fantasiosa e deve ser devidamente corrigida. "Esta foi uma mentira terrível (a versão dos militares)", afirmou ele.
 
Militares descobriram que que o ex-deputado era encarregado de receber e distribuir no Brasil cartas de militantes brasileiros exilados no Chile
Fonteles chegou à conclusão ao comparar informações do Informe ns 70 do SNI, documento recém-descoberto, com depoimentos de Cecília de Barros Correia Viveiros de Castro e Marilene de Lima Corona, além do de Amilcar Lobo, tenente-médico do Exército no início dos anos 1970. A Comissão da Verdade deverá, agora, tentar localizar e interrogar militares da Aeronáutica e do Exército para esclarecer as circunstâncias da morte de Paiva.
 
"Ele (Rubens Paiva) foi morto pelo DOI-Codi do I Exército", disse Fonteles, depois de divulgar o relatório sobre o documento e outras informações históricas relacionados ao caso.
 
Desde o sumiço do ex-deputado, nos anos 1970, o Exército sustenta a versão de que Paiva desapareceu numa operação em que militantes da esquerda teriam tentado resgatá-lo da prisão. Paiva teria sido levado para participar do reconhecimento de uma casa e, na volta ao quartel, foi interceptado e levado por um grupo de guerrilheiros.
 
Pelo Informe 70, o Cisa prendeu Rubens Paiva depois de descobrir que o ex-deputado seria o homem encarregado de receber e distribuir no Brasil cartas de militantes brasileiros exilados no Chile. As cartas, endereçadas a parentes e amigos dos exilados, estavam em poder de Cecília de Barros e da amiga dela Marilene de Lima. As duas foram presas no Aeroporto Internacional do Galeão, em 20 de janeiro de 1971, depois de deixarem o Chile num voo da Varig. Numa rápida investigação sobre o telefone do destinatário das cartas, os militares do Cisa chegaram a Rubens Paiva.
 
"Ao ser interrogada, Marilene declarou que as cartas que conduzia deveriam ser entregues a um senhor por nome de Rubens, que as faria chegar aos destinatários: o contato com o referido cidadão seria mantido através do tel 2275362", descreve o agente do SNI que elaborou o Informe 70.
 
Os detalhes sobre a tortura e morte de Rubens Paiva aparecem nos depoimentos de Cecília e de Amilcar Lobo, que examinou o ex-deputado depois de uma sessão de tortura. O Informe 70 e os depoimentos de Cecília e Lobo também estão no Arquivo Nacional.
 
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