10/05/2013 - 09:43 | última atualização em 10/05/2013 - 11:32

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Fernando Santa Cruz pode ter sido preso por agentes da aeronáutica

site do jornal O Globo

O ex-procurador-geral e membro da Comissão Nacional da Verdade, Claudio Fonteles, divulgou nesta quinta-feira, dia 9, seis textos relativos à pesquisa documental que tem feito no acervo do Arquivo Nacional nos documentos do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI). Entre as informações divulgadas, as "Informações 141 e 142" produzidas pelo Centro de Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa) apontam que os desaparecidos políticos Fernando Santa Cruz de Oliveira e Eduardo Collier foram presos por agentes da Aeronáutica e não do DOI-Codi/RJ.
 
"Tem-se pois que no dia 16 de fevereiro de 1974, os agentes da Cisa, que acompanhavam pari passu, a movimentação de Collier e Santa Cruz, os observaram em encontro em restaurante ao lado do cine Paissandu", escreveu Fonteles, ao citar o relatório número 142 do Cisa que continha relatos de perseguição a Santa Cruz.
 
"Fica claro pela documentação que o Cisa estava no encalço. O Cisa tinha toda a manobra sobre os dois", apontou o membro da CNV.
 
Fernando Santa Cruz desapareceu em 23 de fevereiro de 1974, em Copacabana, no Rio de Janeiro, junto com Eduardo Collier Filho. Até o momento, acreditava-se que os dois tinham sido presos por agentes do DOI/Codi do Rio. Para Fonteles, no entanto, não há dúvidas de que a prisão, tortura e morte dos dois militantes do Ação Popular Marxista-Leninista (AMPL) foi realizada por militares da Aeronáutica.
 
"Não resta a menor dúvida de que Collier e Santa Cruz foram presos por agentes do Centro de Inteligência da Aeronáutica (Cisa). Depois, torturados e mortos", informou Fonteles.
 
Em depoimento ao livro Memórias de uma Guerra Suja, o ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) Cláudio Guerra disse que os corpos de Collier e Santa Cruz foram queimados na Usina Cambahyba, em Campos (RJ). Fernando Santa Cruz de Oliveira é pai do presidente da OAB do Rio, Felipe Santa Cruz Oliveira.
 
Araguaia
 
Além dos casos de Santa Cruz e Collier, o bloco publicado hoje possui textos sobre o Araguaia. Em dois capítulos, Fonteles analisa vários relatórios do Exército e da Marinha, que relatam os "avanços" na campanha de extermínio da guerrilha do PC do B no ano de 1972. No primeiro, os documentos do Exército demonstram o uso de força desproporcional na tarefa. O governo chegou a movimentar 2.453 homens na área e envolveu 1.957 deles nas operações contra cerca de 65 guerrilheiros.
 
De acordo com um relatório em novembro de 1972 do tenente-coronel Flarys Guedes Henriques de Araújo, em pelo menos três bombardeios o Exército fez uso de napalm. "As missões pretendidas pelo CMP aqui mencionadas no item 1 foram executadas no decorrer das operações; há a acrescentar àquele repertório o bombardeio de três áreas com bombas napalm e de emprego geral", informou o relatório.
"Há a compravação do uso uso de napalm em três operações. Uma coisa terrível", afirmou Fonteles.
 
Em dado momento os documentos informam que a repressão compara a ação de eliminação de guerrilheiros a um exercício: "A manobra, como exercício de adestramento da tropa, alcançou plenamente seu objetivo". "Vidas humanas são ceifadas como mero ´exercício de adestramento´ de tropas militares", comenta Fonteles. Os documentos deixam claro a participação ativa do Estado Maior do Exército e do Comando Militar do Planalto nas decisões.
 
Riocentro
 
Fonteles ainda escreveu uma análise do acervo do caso Riocentro, encontrado na casa do coronel Júlio Miguel Molinas Dias, assassinado no Rio Grande do Sul, e entregues por sua família à polícia local. Os documentos de Molinas sobre o caso Riocentro trazem anotações detalhadas sobre as atividades que ele, como comandante do Doi-Codi do Rio, tomou sobre o caso. Na capa, ele informa que seu relatório foi entregue ao coronel Leo Frederico Cinelli, seu superior hierárquico, chefe do serviço de inteligência do 1º Exército, em 08 de maio de 1981, nove dias após a explosão.
 
Os apontamentos indicam, na avaliação de Fonteles, que o Exército tentou manipular o caso, mas sem sucesso, pois a explosão do artefato portado pelo sargento do Exército Guilherme Ferreira do Rosário, morto no acidente, ocorreu sem nenhuma intervenção externa, numa provável imperícia do agente da repressão, classificado nos apontamentos como um "técnico em explosivos autodidata, sem curso ou estágio no manuseio de explosivos".
 
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