Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade e à Comissão Estadual da Verdade do Rio, ontem, o advogado José Bezerra da Silva contou que, quando era soldado da Aeronáutica, testemunhou a tortura contra o militante de esquerda Stuart Angel Jones, desaparecido político. Segundo Bezerra, Stuart foi espancado e arrastado com a boca amarrada ao cano de descarga do jipe de um oficial. Bezerra disse que se indignou com o que viu: "Eu acabei cometendo a infelicidade de dizer ao cabo que aquilo era uma covardia, e perguntaram por quê. E falei: três, quatro caras batendo em um só, um homem já preso e doente. Depois disso, me levaram para o interior da guarda e sofri uma sessão de tortura". Bezerra da Silva disse que dias depois foi internado com hemorragia na região do tórax e teve que ser operado: "O tenente foi me tirar da cama e me levou para me torturar de novo. Ia reclamar com quem, se o meu próprio chefe me torturava?" Com um mapa da Base Aérea do Galeão, onde serviu de 1971 a 1979, Bezerra da Silva mostrou os prédios para onde eram levados os prisioneiros, "dentro de sacos ou encapuzados" Para o presidente da Comissão da Verdade do Rio, Wadih Damous, o relato de Bezerra foi importante, mas não totalmente esclarecedor, pois ainda não há conhecimento sobre o nome dos agressores e algum indício sobre o paradeiro do corpo de Stuart. O segundo a depor foi Belmiro Demétrio, soldado expulso da Aeronáutica por ter se declarado brizolista. Ele foi preso e ameaçado de morte: "Falei que (Leonel) Brizola era o homem que podia alavancar a nação brasileira e passei a ser tratado como inimigo".