19/09/2008 - 16:06

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Ex-diretora do ISP acusa polícia de fabricar dados

Ex-diretora do ISP acusa polícia de fabricar dados

 

 

Do jornal O Estado de São Paulo

 

19/09/2008 - Ex-diretora do Instituto de Segurança Pública (ISP), a antropóloga Ana Paula Miranda acusou ontem o governo do Rio de "fabricar" a comemorada queda de 8,8% na taxa de homicídios. Exonerada em fevereiro, após divulgar número recorde de mortos pela polícia, ela afirmou que "o governo não contabiliza os autos de resistência na soma final de homicídios dolosos e alguns casos que são claramente homicídio estão sendo registrados como encontro de cadáveres."

 

As declarações da antropóloga foram feitas na presença do atual presidente do ISP, o coronel da PM Mário Sérgio Duarte, no 2º Fórum Violência, Participação Popular e Direitos Humanos, ontem, na PUC-Rio.

 

"Registros de autos de resistência, desaparecimentos, encontro de ossadas e cadáveres continuam em tendência de crescimento desde 2000", afirmou Ana Paula, mostrando dados do ISP. Atualmente pesquisadora do Instituto Pereira Passos, ela acredita que alguns homicídios foram redistribuídos para essas categorias.

 

O mais grave para a antropóloga é que os dados sobre a criminalidade devem perder a legitimidade. "Os convênios com a Secretaria de Saúde não foram renovados. Sem eles, não é possível checar a veracidade das ocorrências, pois não há como compará-las com os atendimentos nos hospitais."

 

No debate, o atual presidente do ISP, coronel Mário Sérgio Duarte, negou a manipulação de dados. "Temos quedas de homicídios dolosos e de encontro de ossadas. Não podemos somar autos de resistência aos homicídios, pois seria um erro", justificou Duarte. Ele disse que os autos de resistência ocorrem "em circunstâncias diferentes" às de homicídios. Ex-comandante do Bope, Duarte não renovou os convênios "por problemas de agenda".

 

As explicações do coronel não convenceram os ativistas de direitos humanos. "Os autos de resistência devem ser computados como homicídios, conforme a recomendação da ONU. No Rio, o número de mortos pela polícia corresponde a 12% dos homicídios dolosos", disse Sandra Carvalho, coordenadora da ONG Justiça Global.

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