24/06/2016 - 17:08

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Evento faz análise jurídica sobre delação e práticas persecutórias

redação da Tribuna do Advogado

Discutidas incansavelmente pela sociedade nos últimos tempos, com as manchetes sobre as grandes operações policiais que têm acontecido no país, as práticas persecutórias penais, como a delação premiada e a interceptação telefônica são a pauta do evento que a Comissão de Processo Penal (CPP) da OAB/RJ realizou nesta sexta-feira, dia 24, com parceria da Escolha Superior de Advocacia (ESA), na sede da Seccional.
 
O debate analisou, sob o âmbito jurídico as práticas, com a intenção de fugir do envolvimento político e do calor do momento pelo qual o país passa. “A OAB não traz essa discussão de forma alguma por ser a favor da impunidade que imperava de certa forma, ou da corrupção, obviamente. Mas nós, técnicos do Direito, temos a função da garantia do direito de defesa, da garantia da democracia, dos processos efetivamente justos. Nós temos preocupações e reflexões jurídicas que devem ser feitas”, observou o presidente da Seccional, Felipe Santa Cruz, na abertura do evento.
 
Felipe ressaltou também a posição da Ordem em relação à difamação de advogados e da profissão durante as últimas manchetes sobre as ações policiais: “Basta abrir os jornais para vermos exposição de honorários, discussão sem devida formação técnica , por parte da imprensa, de qual é o papel do advogado... E se há algo nisso tudo que está acontecendo que não aceitamos é a permanente e preocupante tentativa de criminalização da advocacia”.
 
Organizador do debate, o presidente da CPP, Diogo Tebet, frisou a importância do afastamento de “paixões político-partidárias” para uma análise técnica coerente das ações: ”Hoje, com a disseminação dessas notícias, formou-se um senso comum de que todo mundo é criminalista, sabe o que é delação premiada, condução coercitiva. Todo mundo vê e ouve falar sobre isso o tempo todo. Essa instabilidade reflete o ambiente em que a gente vive, de uma incerteza política-jurídica”. Citando as mudanças que o processo penal sofreu nos últimos tempos, Tebet completou: “Em tempos de mutação constitucional, temos que afirmar nossos  princípios que são imutáveis”.
 
No primeiro painel, ainda na parte da manhã, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Rogério Schietti Cruz e o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Geraldo Prado falaram sobre a função e os limites da prisão preventiva analisando questões como o princípio da presunção de inocência e a persecução penal.
 
Na parte da tarde, o evento seguiu com painel sobre delação premiada e o acordo de leniência, com participação do professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Thiago Bottino, da professora da PUC-MG Flaviane Magalhães e dos membros da CPP Ricardo Pieri e Rodrigo Ribeiro.
Diogo Tebet, Rogério Schietti, Felipe Santa Cruz, Antônio Saldanha, Luciano Bandeira e Caroline Albernard  |  Foto: Bruno Marins   |   Clique para ampliar

Segundo Pieri, a delação premiada é o grande catalisador da mudança de paradigmas no Processo Penal Constitucional. “É só pararmos para pensar que, com apenas três anos de vigência da Lei 12850/13 [que dispõe sobre a investigação criminal e trata da colaboração premiada], com essa nova feição que traz mais contrapartidas ao réu e aos investigados, a delação premiada já promoveu uma profunda alteração na dinâmica do processo penal brasileiro. O que me preocupa é quando essas alterações são em detrimento da defesa e caberá ao Direito achar uma saída para o equilíbrio”, analisou.
 
Já Felipe observou que o acordo de leniência deve ser tratado como instrumento de proteção de um capital construído no Brasil ao longo de muitos anos. “Esse capital não pertence a estes empresários hoje conjunturalmente envolvidos em acusações gravíssimas. O capital das nossas construtoras, o capital do saber construído na engenharia nacional pertence à nossa nação”.
 
O debate continua com o painel sobre interceptações telefônicas e de dados, com exposição do professor da Universidade de São Paulo Gustavo Badaró, da desembargadora do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) Simone Schreiber, e dos membros da CPP Ricardo Sidi e Bruno Rodrigues.
 
Na mesa de abertura, estiveram ainda o tesoureiro e presidente da Comissão de Prerrogativas da Seccional, Luciano Bandeira e o ministro do Superior Tribunal de Justiça Antonio Saldanha.
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