21/07/2016 - 11:29 | última atualização em 21/07/2016 - 11:38

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Evento aponta falta de representatividade de mulheres em sindicatos

redação da Tribuna do Advogado

A desigualdade de oportunidades e tratamento da mulher no mercado de trabalho e representações sindicais e o processo de dignificação profissional foram o mote do evento realizado nesta segunda-feira, dia 18, na sede da OAB/RJ em uma parceria entre as comissões de Direito Sindical e a OAB Mulher.
 
“Nossa ideia foi trazer o depoimento de mulheres que participam da área sindical, entendendo que a discriminação é uma situação quase que generalizada. Há uma ausência da mulheres no comando, na liderança de entidades sindicais e isso é reflexo do mercado de trabalho”, observou, na abertura do evento, a presidente da Comissão Especial de Direito Sindical, Rita Cortez.
 
Presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Adriana da Silva Nalesso, afirmou ser ela própria uma das poucas representantes mulheres de entidades sindicais: “E dentro do nosso sindicato mesmo, que é grande, temos só 27% da nossa diretoria composta por mulheres. É um desafio de representatividade até para mim”, afirmou.
 
Ela acredita que houve uma naturalização da falta de envolvimento das mulheres nos debates políticos das categorias por elas culturalmente serem mais sobrecarregadas com o trabalho fora e as tarefas de cuidar da casa. “É difícil atrair mulheres para nossos encontros porque, em sua maioria, também são elas as responsáveis por seus lares. Para o mundo ser mais justo e igualitário é importante que os homens que nasceram de mulheres tenham a percepção de seu papel também dentro de uma família”.
 
Glorya Ramos, Rita Cortez, Marisa Gaudio, Benizete Ramos de Medeiros e Adriana da Silva Medeiros  |  Foto: Lula Aparício   |   Clique para ampliarNalesso apontou dados da ONU sobre o progresso das mulheres no mundo que demonstram que as diferenças no mercado de trabalho não se resumem à remuneração das mulheres, mas também incluem a dificuldade de ascensão na carreira e discriminação. “Sempre tentam relacionar a figura da mulher com a da venda. Geralmente a mulher é a responsável por oferecer o produto para o cliente e isso não é diferente na nossa categoria. Muitas bancárias chegam à gerência. Mas à superintendência, diretoria, dificilmente. E olha que somos uma categoria organizada nacionalmente”.
 
A professora Glorya Ramos, membro do Sindicato dos Professores e do Departamento de Políticas para as Mulheres da Central Única dos Trabalhadores (CUT) chamou a atenção para o racismo institucional, assim como para outras formas de discriminação.
 
“Eu, quando chego aqui me apresentando como uma mulher nega, não estou sendo exagerada ou redundante. Isso é uma afirmação. Se nós não nos afirmamos simplesmente não somos notados. O preconceito é naturalizado e isso faz com que passe despercebido o fato de só ter um ou outro negro, uma ou outra mulher, ou, mais ainda, uma ou outra mulher negra em uma entidade, no parlamento, em uma instituição”.
 
Já a presidente da Associação luso-brasileira de juristas do Trabalho, Benizete Ramos de Medeiros, alertou para a difícil fase que a Justiça do Trabalho sofre, agravada pelo corte de verbas estipulado pela última Lei Orçamentária Anual (Lei Federal 13.255/2016): menos 29% nas verbas destinadas a custeio e de 90% nas de investimentos.
 
A isso se soma, segundo ela, uma agenda favorável ao enfraquecimento sindical: “O Brasil teve o ápice do sindicalismo nos anos 1980 e que da década de 1990, que foi um período neoliberal, tivemos justamente o oposto – o enfraquecimento do conceito de coletivo, do movimento do trabalhador. As assembleias foram esvaziadas por medo do fantasma do desemprego. O trabalhador tem medo de ir a reuniões, reivindicar, fazer greve, e ser punido. Essa é uma percepção muito nociva, mas que ganhou espaço nos momentos de crise vividos na era neoliberal. Tem trabalhador que desconhece até onde é a sede do seu sindicato”.
 
Segundo ela, a ampliação da possibilidade de terceirização para atividades-fim seria o decreto do fim do modelo: “Não tenham duvida que se implantarmos no sistema brasileiro a ampla terceirização, além de todo o conjunto de nocividade ao trabalhador, de perda de comprometimento com a empresa, talvez o mais grave seja o desmonte do sistema sindical. O sistema sindical vai ruir pelas próprias bases. Vamos acabar com conquistas históricas, centenárias, marcadas por lutas diárias”.
 
O debate teve também participação da vice-presidente da OAB Mulher, Marisa Gaudio, e da procuradora do trabalho Lisyane Chaves Motta, que falaram sobre a campanha mundial promovida pela ONU #ElesPorElas, adotada pela OAB/RJ e que propõe que os homens contribuam no combate à discriminação de gênero.
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