27/03/2015 - 10:46

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Estado vai ampliar formação de policiais para proteger LGBTs

jornal O Globo

Um ataque a um casal gay que trocava beijos na Praça São Salvador, em Laranjeiras, na madrugada do dia 1º de março, está pressionando o estado a tomar atitudes incisivas para conter agressões contra a população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais). O programa Rio sem homofobia, em parceria com a Secretaria de Estado de Segurança (Seseg), pretende ampliar, a partir de abril, a formação dos policiais civis e militares para a condução de casos de homofobia. Cerca de 12% da corporação já fez o curso, mas a intenção é aumentar o percentual e implementar videoaulas.

Os vídeos vão ensinar, por exemplo, como detectar agressões do tipo, como abordar transgêneros de maneira adequada, e como conduzir casos de homofobia. O material poderá ser visto a todo momento nos batalhões, para que o discurso seja reforçado, afirma o subsecretário de Educação,Valorização e Prevenção da Seseg, Pehkx Jones Gomes da Silveira.
 
A partir de agora, será exigido que policiais façam cursos de atendimento a LGBTs, mulheres, menores e idosos para que sejam promovidos. Coordenador do Rio sem homofobia, Cláudio Nascimento acredita que, desde 2007, quando o programa foi criado, a conduta policial vem melhorando.
 
"Em 2007, recebemos de 100 a 150 ocorrências envolvendo abuso de autoridade. Hoje, as denúncias estão na casa das dezenas", aponta Nascimento. "A homofobia existe em todos os segmentos da sociedade, por isso, temos que exigir uma atuação técnica e respeitosa", disse.
 
Centenas de manifestantes devem se reunir, nesta sexta, a partir das 18h, na praça onde os dois rapazes foram agredidos com garrafas e copos de vidro por frequentadores de um bar, para um “beijaço”. Os ativistas colarão na área adesivos “Aqui tem LGBTfobia” e ainda lançarão na web o site “Tem local?”, que vai reunir denúncias de agressões a homossexuais em todo o Brasil. O internauta poderá navegar pelas regiões do país e identificar as áreas mais perigosas, dar seu depoimento e oferecer dicas de estabelecimentos gay friendly.
 
"Muitas denúncias só vão para as redes sociais e, depois de alguma repercussão, se perdem. Essa será uma maneira de reunir as informações e gerar estatísticas", aponta Thiago Bassi, um dos organizadores do protesto.
 
Ofensas em todo lugar
 
Em 24 horas de apuração, O Globo recebeu uma dúzia de relatos de agressões a gays e transexuais, no Rio, apenas nos últimos meses. Em alguns casos, como o do estudante de Direito Maycon Reis, de 22 anos, as ofensas são diárias: no metrô; dentro da Universidade Federal Fluminense, onde estuda; e nas boates. Na última quinta-feira, o rapaz recebeu um soco no rosto de um vendedor ambulante que achou que ele estava “se insinuando”, ao abordá-lo para comprar uma cerveja, na Cantareira, área boêmia de Niterói.
 
"Às vezes deixo de sair na rua porque sei que vou ouvir desaforos. Meu direito mais básico, o de ir e vir, está sendo roubado", enfatiza o estudante.
 
O sentimento de ter a liberdade limitada, aliás, é recorrente entre as vítimas. A estudante de Letras Leticia Appes, de 20 anos, e a namorada, Marrie Machado, de 28, foram atacadas em um bloco de carnaval, mês passado, com gelo e cerveja, fora os gritos de “sapatão nojenta”. Ao se distanciar do grupo, as moças foram atacadas novamente, por outros frequentadores.
 
"Não tive mais vontade de curtir a festa. Me senti humilhada, com raiva", comenta Leticia. "Ficou difícil sentir a energia linda do carnaval depois de sofrer lesbofobia duas vezes na mesma noite".
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