16/04/2012 - 09:27

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Especialistas e familiares pedem inclusão de autistas na sociedade

redação da Tribuna do Advogado

"Espero que as crianças autistas de agora não tenham mais comprometimentos sérios nem passem por situações tão deprimentes como eu passei e ainda passo com o meu filho por não ter a oportunidade de um atendimento digno. Nunca vi tanto desprezo e descaso com a vida de um cidadão como tenho visto durante todos esses anos com ele, que até hoje não teve seus direitos respeitados".
 
O depoimento de Maria Auxiliadora, mãe de um autista de 25 anos, ilustrou a situação de milhares familiares de crianças e adultos com a disfunção, que foi tema de seminário realizado nesta sexta-feira, dia 13, no salão da OAB/RJ. O evento fez parte das comemorações da Seccional ao Dia Mundial de Sensibilização para o Autismo, celebrado no último dia 2.
 
Maria relatou as dificuldades vividas desde a infância de seu filho, quando autismo ainda era uma palavra desconhecida, até sua fase adulta. "A Saúde Pública acha que nossos filhos, pelo menos os com grau mais elevado de autismo, têm que ficar nos Centros de Atenção Psicossocial (CAP), que têm se tornado mini-manicômios". 
 
Um tratamento mais adequado, segundo a maioria dos especialistas presentes ao evento, seria o previsto na Lei nº 6169/2011, de autoria do deputado estadual Xandrinho (PV-RJ), de criação de Centros de Reabilitação Integral, em diferentes regiões do estado, voltados para esses menores.
 
"Alguns pais têm condições de tratar adequadamente seus filhos autistas, mas a realidade é que a maior parte da população não tem. O que conseguimos, com a aprovação dessa lei, foi deixar claro que o mínimo que o governo tem que fazer é diagnosticar e tratar", observou o deputado, que participou de uma das mesas do seminário.
 
Ele explicou que a ideia do projeto de lei partiu de conversas com representantes da ONG Mundo Azul: "Percebi que não temos nenhum estudo em nosso país sobre autismo e que há casos até de pais que não querem conhecer o problema. Isso é gravíssimo. O autismo deve ser encarado de frente".
 
A questão também foi levantada pelo professor e consultor de Inclusão Social Romeu Sassaki. Ele explicou que a sociedade e, algumas vezes, os próprios familiares, querem que o autista se torne uma "pessoa normal". "Temos que aprender a agir e trabalhar com essas pessoas do jeito que elas são, sem querer transformá-las”.
 
Segundo a representante do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, Samantha Monteiro, poucas escolas públicas atendem às crianças com a disfunção. "O tratamento aos autistas nos colégios varia muito de acordo com esforços individuais das instituições".
 
A coordenadora do Núcleo de Saúde Mental e Trabalho (Nusamt) do governo do estado, Vera Pazos, informou que será realizado um trabalho, a partir de agora, de inclusão de pessoas com transtornos psicomotores nas cotas de trabalho para deficientes. "O Rio de Janeiro está sendo, com essa medida, pioneiro nessa questão", afirmou.
 
O deputado federal Otávio Leite (PSDB-RJ) reforçou a necessidade de um passo adiante: "O maior desafio a partir de agora é assegurar avanços concretos, não apenas manifestações programáticas de direitos. Já progredimos na legislação, só precisamos que as coisas aconteçam na prática, com mais sensibilidade dos governantes e mais acesso aos instrumentos da tecnologia".
 
Ele citou como exemplo a medida do Governo Federal, anunciada na última semana, de deduzir do Imposto de Renda (IR) de empresas ou pessoas físicas as doações ou patrocínio a instituições filantrópicas dedicadas ao tratamento de pessoas com deficiência. "Isso abre uma nova fonte de recursos para essas instituições da sociedade civil, que têm segurado a barra durante anos".
 
O evento fez parte de uma série de ações da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CDPD) da OAB/RJ, em parceria com a Universidade Castelo Branco, lembradas pelo presidente da CDPD, Geraldo Nogueira. Segundo ele, será produzido um vídeo, reunindo todas as manifestações, para levar informações sobre a disfunção para a população.
 
A presidente da Comissão de Assuntos Tributários da Seccional, Daniela Gusmão, esteve presente da mesa de abertura representando a universidade, da qual é reitora. "Essa parceria mostra que a OAB/RJ pode ser, sim, um braço institucional muito importante na luta das pessoas com autismo, assim como em tantas outras questões de Direitos Humanos", ressaltou.
 
O seminário foi coordenado pela colaboradora da CDPD Bárbara Parente e contou também com a participação da pró-reitora de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade Castelo Branco, Elizabeth Felix.
 
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