09/10/2009 - 16:06

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Em entrevista, urbanista critica concentração de recursos das Olimpíadas na Barra da Tijuca

Em entrevista, urbanista critica concentração de recursos das Olimpíadas na Barra da Tijuca

 

 

Do jornal O Globo

 

09/10/2009 - Pelo projeto Rio 2016, a Barra concentrará a maior parte dos equipamentos esportivos e a própria Vila Olímpica. Isso pode significar que o restante da cidade, especialmente os bairros do subúrbio, onde estão os maiores problemas de infraestrutura, poderão continuar como os grandes esquecidos pelo poder público, apesar das Olimpíadas?

 

Sérgio Magalhães: Os recursos serão muito importantes. Mas, se forem dirigidos prioritariamente para a Barra, a cidade vai sofrer muito. E a grande mudança que uma Olimpíada pode trazer vai ser minimizada porque o conjunto da população terá menos oportunidades do que teria, por exemplo, se os Jogos Olímpicos se concentrassem na área portuária. O Porto, agora, está disponível. Quando as Olimpíadas foram programadas, não havia o acordo entre os três níveis de governo. Os terrenos do Porto estavam impossíveis. Isso mudou.

 

 

O que poderia ser construído na área portuária? A Vila Olímpica?

 

A Vila Olímpica e um grande número de equipamentos. A própria Vila de Imprensa. O prefeito Eduardo Paes disse que a construção da Vila de Imprensa deveria ser antecipada para poder ser útil durante a Copa de 2014. A Copa será no Maracanã. Se a Vila de Imprensa for na Barra, ficará mal localizada. Já, se ficar no Porto, seria perfeito.

 

 

Ainda há tempo de mudar, mesmo o projeto já tendo sido apresentado ao COI?

 

Claro! Inclusive porque vamos economizar tempo e dinheiro. O aproveitamento do Porto é mais barato. A área é central e haverá a valorização de toda a Região Metropolitana porque o sistema de transportes melhora. A construção da Vila Olímpica também vai estimular a habitação e novos edifícios de serviços e escritórios no Centro. O que Barcelona fez foi pegar a área degradada e investir nela. A cidade toda se beneficiou. Nós pegamos a área que o setor imobiliário está querendo (Barra) e, neste caso, os investimentos ficarão só lá.

 

 

Por que os subúrbios e a Zona Norte como um todo seriam beneficiados se o Porto fosse o local com mais equipamentos olímpicos?

 

Os subúrbios e a Zona Norte têm equipamentos que serão usados. O Maracanã fica na Zona Norte. O Engenhão, no Engenho de Dentro. E tem Deodoro. Em todo esse corredor, o trem tem de virar metrô de qualidade (de superfície). Essa conexão passa a ser mais privilegiada do que a da Zona Sul para a Barra. O metrô para a Barra vai ter pouca gente e muita obra. É do interesse da construtora e não da população. Ao passo que o metrô nas linhas do subúrbio é a redenção da Zona Norte.

 

 

Então, se tivéssemos a maioria dos equipamentos no Porto, em vez de na Barra, a melhoria da infraestrutura seria irradiada para a Zona Norte?

 

Além de ser muito mais barato e efetivo no tempo para resolver tudo. Ganha a cidade como um todo, em termos de investimento. Vamos ter a Olimpíada que transformará para melhor o conjunto da cidade. E não tem nenhuma contradição em relação ao que foi proposto ao COI porque, na ocasião em que o projeto foi apresentado, isso não seria viável. Seria difícil prever que haveria um acordo tão efetivo entre os governos federal, estadual e municipal. A tal ponto que o prefeito Eduardo Paes, o governador Sérgio Cabral e o presidente Lula já assinaram um acordo em relação às terras da área portuária. No Porto tem terreno suficiente para tudo o que se quiser. Deixamos alguns equipamentos na Barra por que já estão construídos. Mas não se constrói mais. O núcleo fica na área portuária. Mas tem ainda o gasômetro, um terreno enorme junto à antiga Leopoldina e a área do Complexo Penitenciário da Frei Caneca.

 

 

Como ficaria o projeto de levar o metrô até a Barra?

 

É um investimento sem pé nem cabeça, em termos de prioridade, por causa do custo-benefício. Será um investimento para obra. Não é para passageiros. Depois, a Linha 4 foi licitada para ser concessão. Não faz sentido botar dinheiro público naquilo que foi licitado para ser concessão.

 

 

Na área de transportes, além de transformar o trem suburbano em metrô de superfície, o que mais deveria ser feito para ficar de legado das Olimpíadas?

 

Transformar o trem em metrô deve ser a grande prioridade. As outras coisas que forem feitas, ótimo. Se tivermos as duas linhas de metrô existentes articuladas com as três linhas de trem, transformadas em metrô, toda a parte olímpica fica com excelente padrão de qualidade de transporte. A Vila Olímpica fica no vértice de dois vetores. Uma linha é Centro, Aterro, Copacabana e Lagoa, onde estão previstas competições. A outra linha é Centro, Maracanã, Engenhão e Deodoro. As vilas Olímpica e de Imprensa nesse vértice, voltadas para o mar, serão show de bola.

 

 

E, na área ambiental, que legados não podem deixar de ficar para a cidade?

 

A despoluição da Baía de Guanabara é vital. Depois, é melhorar muito o saneamento. Temos ainda que continuar com a urbanização das favelas. Se oferecermos um transporte de qualidade para o subúrbio, chegando até a Baixada Fluminense, aliviaremos a pressão em relação à moradia e permitiremos que novas construções sejam feitas com um bom sistema de transporte coletivo. Isso vai enfraquecer a pressão sobre as favelas. Hoje, pelo que está programado, a área a ser beneficiada é exageradamente grande. Do Centro à Barra são 40 quilômetros. Não tem nenhuma cidade olímpica no mundo que tenha chegado a esse exagero. Barcelona, por exemplo, é uma área que cabe no Centro e na Zona Sul.

 

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