02/04/2012 - 16:50

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Encontro discute legado dos Jogos de 2016, UPPs e transporte no RJ

jornal O Globo

O legado de eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o papel do estado na revitalização das favelas e a necessidade de investimentos em transporte público foram alguns dos temas discutidos no debate "O Globo no Arq. Futuro", promovido pelo jornal, ontem, na Casa do Saber, na Lagoa. O evento teve participação da americana Karen Stein, professora da School of Visual Arts de Nova York, e do economista carioca José Alexandre Scheikman, com mediação do jornalista Mauro Ventura, do Globo

"A arquitetura tem um papel muito importante nesse momento de crescimento do Brasil e do Rio, motivado por esses grandes eventos", afirmou Karen, formada em arquitetura pela Universidade de Princeton, nos EUA, e colaboradora de publicações como a 'New York Magazine'. "O Rio sempre esteve presente no imaginário internacional pela beleza, mas hoje se destaca também pela economia e cultura. Por isso, a forma como a cidade se desenvolve chama a atenção de todos".

Um dos temas mais discutidos neste debate adicional do evento Arq.Futuro foi o impacto dos Jogos na cidade. Segundo Karen, as Olimpíadas têm que ser um pretexto para resolver problemas da cidade, como ocorreu em Barcelona, na Espanha, sede dos Jogos de 1992.

"Barcelona era uma cidade que ficou sem atenção durante muito tempo. Havia um grande atraso. Mas os grandes investimentos trouxeram resultado", disse ela.

Scheinkman concordou, mas fez um alerta para que os cariocas não se esqueçam do exemplo de Montreal, no Canadá, que recebeu os Jogos de 1976.

"Se as Olimpíadas servirem como uma espécie de prazo para que as coisas de que a cidade precisa sejam realizadas, será uma vitória. Esse tipo de evento cria um estado de urgência para a solução de problemas. Mas os investimentos têm que ser bem coordenados. Não podemos esquecer de Montreal, que ficou anos pagando dívidas dos Jogos".

Em resposta a uma pergunta da plateia, sobre como amenizar problemas como engarrafamentos, o economista defendeu a tese de que "é preciso fazer o carro sofrer".

"Com o Rio crescendo em direção à Barra da Tijuca, sem investimento em transportes públicos, o que vamos ter é mais gente andando de carro, com um custo muito alto para a qualidade de vida da cidade - disse ele. - Em lugares como Nova York, há um limite de criação de vagas de estacionamento, e taxação para circulação em certos lugares. É preciso tornar a 'vida do carro' mais difícil".

Professora cita arquitetura ativista ao falar de favelas

A ocupação das favelas, em tempos de UPP, e a forma como a arquitetura pode atuar em áreas menos favorecidas também foram tema de perguntas feitas à dupla pelo público que lotou a Casa do Saber (uma sala extra foi aberta para que mais pessoas acompanhassem o debate).

"Se você visitasse uma favela há 15 anos, veria que o setor privado já estava lá, com locadoras, bares e outros empreendimentos, mas o estado não estava", comentou Scheikman. "Agora, o estado marca presença com as UPPs. Isso é importante, mas não é tudo. Um segundo passo seria dar aos residentes a possibilidade de direito à propriedade. Assim, a favela ganharia cuidados e poderia se valorizar. Uma terceira etapa seria a delimitação dessas áreas".

Karen citou o valor da chamada arquitetura ativista.

"A arquitetura ativista é uma corrente cada vez mais forte, com uma abordagem mais ampla de problemas em áreas menos favorecidas, como as favelas. É uma visão mais sensível a temas econômicos e ambientais. Na essência, a arquitetura é otimista, mas isso só pode ser desenvolvido através de um amplo diálogo com outros setores".
 
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