08/11/2009 - 16:06

COMPARTILHE

Empresário é acusado de vender sentenças para políticos no TJ

Empresário é acusado de vender sentenças para políticos no TJ


Do jornal O Globo

08/11/2009 - Há pelo menos uma década o empresário e estudante de Direito Eduardo Raschkovsky age à sombra da Justiça fluminense, oferecendo sentenças e outras facilidades em troca de vantagens financeiras. Para convencer a clientela – políticos, empresários, tabeliães – a topar o negócio, alardeia sua intimidade com alguns juízes e desembargadores, chegando a antecipar decisões em causas ainda não julgadas. É o que mostra a reportagem de Chico Otavio e Cássio Bruno para O Globo deste domingo.

Mesmo depois de ser acusado por uma juíza de "lustrar os sapatos nos tapetes vermelhos do tribunal", além de tentativa de suborno, Eduardo não se intimidou. Continua buscando novos clientes, em assédios regados a vinho em sua casa no Itanhangá, e convivendo com magistrados. No dia 22 de outubro, por exemplo, abriu os salões da casa para homenagear aquele que cuida justamente da lisura do tribunal: o desembargador Roberto Wider, corregedor-geral da Justiça fluminense.


Wider afirma que nunca fez negócios com o amigo e nem sabe em que ramo ele

Sócio de doleiros investigados pela polícia (um deles por associação ao narcotráfico), envolvido em operações obscuras do grupo Opportunity, dono de uma empresa rastreada pelo Conselho de Controle de Atividades Financeira (Coaf) por suspeita de lavagem de dinheiro, Eduardo usa a amizade com Wider, corregedor e ex-presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ). O magistrado, que lançou no ano passado a campanha contra os chamados candidatos de ficha suja, disse que a relação limita-se ao convívio pessoal, e que eles nunca fizeram qualquer tipo de negócio.


Fichas-sujas: até R$ 10 milhões

Enquanto Wider comandava uma guerra sem tréguas contra os fichas-sujas, Eduardo atuou intensamente nos bastidores para oferecer blindagem aos políticos mais problemáticos. Um ano depois das eleições, cinco deles e um advogado de candidato contam, em caráter reservado, que Eduardo pediu quantias variando de R$ 200 mil a R$ 10 milhões para limpar as fichas, livrando-os do risco de impugnação ou cassação do diploma. As negociações aconteceram no Itanhangá e no escritório "L. Montenegro", que pertence ao sogro de Eduardo.

Os políticos ouvidos pelo GLOBO – um prefeito, dois ex-prefeitos, um deputado federal e um estadual – disseram que sua opção pelo sigilo de fonte foi motivada pelo medo de eventuais retaliações. Os cinco, somados ao advogado de um prefeito eleito, descreveram em detalhes a residência e o escritório de Eduardo Raschkovsky. As descrições do empresário e de sua forma de abordagem – incluindo a cobrança de propina – também coincidem. Alguns dos políticos entrevistados são adversários e não se falam há anos.

Eduardo tem outros amigos de toga. Já foi sócio da mulher do desembargador Carpena Amorim, ex-corregedor-geral de Justiça, e oferecia periodicamente degustações de vinhos a magistrados em sua residência. Ele mesmo afirmou que, no jantar do dia 22 de outubro, reuniu cincos desembargadores e dois juízes em torno de Wider, como quem se encontra, no mínimo uma vez por semana. Também já viajaram juntos para Israel e Inglaterra, em 2005, e passam o finais de semana na casa de Eduardo em Nogueira, distrito de Petrópolis

Em pelo menos uma ocasião, essa amizade se desdobrou em ação prática: sócios de Eduardo ajudaram a então mulher de Wider, Vera Lúcia Teixeira dos Santos, a fazer uma remessa de dólares para Portugal – para uma agência do Banco Comercial Português em Lisboa – pelo esquema paralelo ao Banco Central e investigado pela Operação Farol da Colina, da PF.

Abrir WhatsApp