27/10/2014 - 11:31

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Dilma relança reforma política como prioridade

jornal Folha de S. Paulo

Depois de enfrentar a mais acirrada disputa eleitoral desde a redemocratização, marcada por reviravoltas, surpresas e ataques pessoais de todos os lados, Dilma Rousseff fez um discurso prometendo união, diálogo e um governo de mudanças.
 
"Conclamo, sem exceção, a todas as brasileiras e todos os brasileiros para nos unirmos em favor do futuro da nossa pátria e de nosso povo. Não acredito, sinceramente, que essas eleições tenham dividido o país ao meio", disse Dilma, primeira mulher reeleita à Presidência no país, diante de militantes em hotel de Brasília.
 
Ao reconhecer que precisa dialogar mais com diversos setores da sociedade, a presidente se comprometeu com a realização da reforma política, o combate à corrupção, o controle da inflação e o crescimento econômico.
 
Dilma falou que se empenhará para "deflagrar" a reforma política "por meio de um plebiscito". Retoma assim a agenda que tentou, sem sucesso, levar adiante após os protestos de junho de 2013. Um dos motivos do naufrágio da agenda à época foi o PMDB, principal aliado do PT, ser contra. Se insistir na ideia, Dilma deve enfrentar atritos com o partido.
 
O discurso foi recheado de agradecimentos ao ex-presidente Lula, que estava a seu lado após um estremecimento relatado por aliados ao longo da campanha. Dilma não fez nenhuma referência ao candidato derrotado, Aécio Neves (PSDB).
 
O vice-presidente reeleito, Michel Temer, escanteado durante quase toda a campanha, também ouviu elogios pessoais. Qualquer maioria congressual passa pelo seu partido, o PMDB.
 
A petista citou o combate à corrupção, tema em evidência com o escândalo da Petrobras que gera sombras sobre o PT e aliados. "Terei um compromisso rigoroso com o combate à corrupção e com a proposição de mudanças na legislação atual para acabar com a impunidade".
 
Dilma insistiu em convergência política, apesar do placar apertado que rachou o eleitorado. "Algumas vezes na história, os resultados apertados produziram mudanças mais fortes e rápidas do que as vitórias amplas. É essa a minha esperança".
 
Brigando com microfones disfuncionais, Dilma prometeu mudar de perfil, considerado autoritário pelos aliados. "Esta presidente está disposta ao diálogo. Esse é meu compromisso do segundo mandato", afirmou, para depois ouvir o coro da plateia de "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo". Críticas à Veja e frases como "mídia fascista" também foram ouvidas.
 
Reeleita, Dilma admitiu que o país quer mudanças e que quer ser uma presidente "muito melhor". "Algumas palavras e temas dominaram essa campanha. A palavra mais repetida, mais dita, mais falada, mais dominante foi mudança. O tema mais amplamente evocado foi reforma."
 
Por fim, fez referência ao Hino Nacional e ao seu passado de militante da luta armada ao dizer que "Brasil, mais uma vez essa filha tua não fugirá da luta".
 
A tensão acompanhou o comitê de Dilma até a divulgação dos resultados. Vitoriosa, ela comemorou com Lula e ministros próximos. "Ganhamos", disse a Lula, segundo relatos. O ex-presidente, que faz aniversário nesta segunda, dia 27, ganhou um bolo dos colegas.
 
Economista, a petista vai para seu segundo mandato depois de ser ministra de Minas e Energia de Lula, ter ocupado a Casa Civil após José Dirceu deixar o posto na esteira no mensalão e ter sido alçada candidata à presidência em 2010 pelo seu antecessor.
 
Líder nas primeiras pesquisas eleitorais, Dilma viu o cenário virar em agosto, após a morte de Eduardo Campos (PSB) alavancar Marina Silva. O PT, então, operou uma desconstrução de Marina. Deu certo, mas Aécio Neves (PSDB) emergiu com força no segundo turno. A virada numérica na vantagem de Dilma só veio na semana passada, às vésperas da eleição.
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