03/03/2010 - 16:06

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Deputado da 'oração da propina' renuncia

Deputado da 'oração da propina' renuncia


Do jornal O Globo

03/03/2010 - Comparando sua situação à de Maria Madalena, a pecadora perdoada por Jesus Cristo no Novo Testamento, o deputado distrital Júnior Brunelli (PSC) renunciou ontem ao mandato. Ele é suspeito de receber mesada de R$ 30 mil para apoiar o governador afastado José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM). Filho do fundador de uma igreja evangélica de Brasília, o deputado ficou famoso por liderar a chamada oração da propina, registrada em vídeo da Operação Caixa de Pandora da Polícia Federal.

Na carta de renúncia, entregue ontem à Câmara Legislativa, Brunelli confessou ter feito caixa dois na campanha de 2006, mas negou envolvimento no mensalão do DEM. Ele se disse "vítima de uma conspiração política" para cassar seu mandato.

Carta de Brunelli mistura Bíblia, Hitler e Collor "O dinheiro que aparece no vídeo, num momento de disputa eleitoral, em setembro de 2006, era destinado a um evento de campanha. Isso tão somente. Nada mais. Essa é uma prática comum dos partidos políticos brasileiros", disse na carta. "Se existe algo de errado, que se faça, com a urgência necessária, a tão reclamada reforma política".

Misturando referências à Bíblia, ao ditador nazista Adolf Hitler e ao ex-presidente Fernando Collor, Brunelli alegou ter sido alvo de "imagens montadas e manipuladas ao sabor da conveniência dos poderosos de ocasião". E prosseguiu. "Os vídeos foram divulgados como uma verdadeira overdose pela mídia, sem que eu pudesse responder com serenidade e equilíbrio ao massacre público de minha imagem como homem de Deus e parlamentar".

O deputado alegou que a oração da propina não tinha o objetivo de agradecer por verba ilícita, como foi divulgado. "A tão comentada oração foi dirigida a uma pessoa, que, naquele momento, vivia grandes conflitos emocionais, um dilema íntimo. (...) Aquela oração não visava bens materiais, mas o reconforto de uma alma em conflito e angustiada".

Brunelli citou ações em favor dos evangélicos, como as leis que isentaram os templos de IPTU e permitiram a regularização de terrenos ocupados ilegalmente por igrejas. "Infelizmente, é com o coração agonizante e alma em frangalhos que confesso: todo esse histórico de luta e de trabalho incessante em favor dos desprotegidos, daqueles que não tem um teto para morar, dos desempregados, dos injustiçados, não foi suficiente para garantir meu mandato".

E concluiu: "É importante lembrar que até mesmo Jesus Cristo, o Deus feito homem, não abandonou aqueles que cometeram crimes. 'Atire a primeira pedra aquele nunca pecou', diz a passagem bíblica. Jesus Cristo perdoou Maria Madalena, tida como pecadora e adúltera".

O deputado foi o segundo envolvido no escândalo a renunciar para não ser cassado. Ele seguiu o exemplo de Leonardo Prudente (sem partido, ex-DEM) , o "deputado da meia", que deixou o cargo na semana passada.

Dos sete suplentes convocados pela Justiça para atuar nos processos contra Arruda, quatro anunciaram ontem que não pretendem receber o jetom de R$ 413 por sessão. Ontem, o novo presidente da Câmara, Cabo Patrício (PT), chegou a agradecer a Mário Gomes da Nóbrega (PMN) por devolver o dinheiro aos cofres da Casa. Mas o suplente, que já recebe aposentadoria de R$ 13,8 mil como delegado de polícia, indicou com um gesto que não abre mão da verba.

"Se você trabalha, tem que receber. Ainda mais para participar de um processo traumático como esse", explicou, após a sessão.

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