16/05/2011 - Numa área de 2.600 m² em Sambaetiba, bairro de Itaboraí (RJ), pedreiros erguem o primeiro bloco de alojamentos para receber cerca de 400 futuros trabalhadores do vizinho Comperj (Complexo Petroquímico do Rio). Restam ainda 18 mil m2 a serem ocupados no mesmo terreno. A poucos quilômetros dali, a família de nove pessoas do biscateiro Isaac Teixeira, 41, se espreme num cômodo alugado de cerca de 12 m2. Ele busca outro imóvel com dois quartos, mas o preço triplicou em dois anos. A especulação imobiliária e o crescimento do preço de aluguéis e terrenos é o primeiro indício do efeito da maior obra da Petrobras no Rio, estimada em US$ 19 bilhões e com previsão para iniciar operações em 2014. O estudo do ISP (Instituto de Segurança Pública), órgão vinculado à Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, aponta o crescimento mal planejado como um dos possíveis estopins para o crescimento da violência. "O abandono do poder público em certas regiões poderá criar um sentimento de insegurança pela precariedade de serviços básicos, gerando maior risco de morte e de fácil instalação de facções criminosas em locais onde o Estado não se faz presente", diz o estudo do instituto. O ISP elaborou propostas para evitar o problema. Uma reunião com oito secretários deve ser marcada para definir os rumos para evitar novo colapso social, como ocorrido em Macaé. O levantamento sugere aumento do efetivo da PM e criação de Divisão de Homicídios para a região. Parte das propostas já foi executada, como a modernização de delegacias da região. Ordem Além das sugestões na área de segurança, o ISP pede o controle da expansão desordenada no entorno do Comperj e melhoria na infraestrutura da cidade. A pesquisa revela, porém, que os gestores municipais por vezes se sentem impotentes frente ao forte investimento na cidade. "A relação da empresa - Petrobras - com a prefeitura do município tem declinado. Nesse cenário, os poderes estadual e federal aparecem como impositores de um empreendimento de consequências nunca experimentadas pela máquina pública municipal, que alega não ter recursos para preparar a cidade", aponta o estudo. Procurados, a Prefeitura de Itaboraí e a Petrobras não se pronunciaram. "Os municípios devem ser capacitados para receber esses investimentos", diz o diretor-presidente do ISP, tenente-coronel Paulo Augusto Teixeira. A especulação imobiliária já começou. Terrenos e aluguéis custam o triplo, segundo corretores. Sítios de veraneio vizinhos se transformam em alojamentos para receber os cerca de 15 mil futuros empregados. Isaac sofre com a alta. Beneficiário do Bolsa Família, ele busca alugar por R$ 150 um imóvel com dois quartos. Enquanto tem dificuldades em achar, paga R$ 50 por mês para abrigar a mulher e os sete filhos numa sala com apenas um sofá. Outro cômodo da casa é alugado por uma mulher. "Estou tentando encontrar algo melhor, mas está difícil", diz o biscateiro.