23/09/2013 - 17:27 | última atualização em 24/09/2013 - 13:21

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Comissão da Verdade visita prédio do DOI-Codi e pede centro de memória

redação da Tribuna do Advogado

Integrantes das comissões da Verdade do Senado e do Rio de Janeiro fizeram nesta segunda-feira, dia 23, uma visita ao prédio do antigo DOI-Codi, no 1º Batalhão de Polícia do Exército, na Tijuca. Além de percorrer as dependências do batalhão, a comitiva falou sobre o documento que já foi entregue ao Ministério da Defesa solicitando a transformação do espaço em um centro de memória, a exemplo do que foi feito no antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo e em centros de tortura na Argentina, no Uruguai e no Chile. Também foi entregue um ofício endereçado ao ministro da Defesa e ao comandante do Exército pedindo esclarecimentos sobre os desaparecidos políticos e sobre a bomba que explodiu na sede do Conselho Federal, na década de 1980, situada, à época, no Rio.
 
Pela primeira vez na democracia, uma comitiva de entidades da sociedade civil e parlamentares de comissões da verdade puderam entrar nas dependências desse local tão macabro
Wadih Damous
presidente da Comissão da Verdade do Rio
"Não impediram nossa entrada em nenhum local, visitamos todas as dependências. O local já está descaracterizado, ao longo dos anos houve obras. Mas o Álvaro Caldas, que integrava a comitiva, reconheceu o prédio e algumas salas", disse o presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih Damous. Álvaro Caldas é jornalista e foi torturado no DOI-Codi durante a ditadura.
 
Wadih explicou que um dos principais objetivos da visita é o resgate da memória histórica do país. "Considero o dia de hoje histórico. Pela primeira vez na democracia, uma comitiva de entidades da sociedade civil e parlamentares de comissões da verdade puderam entrar nas dependências desse local tão macabro. É um exercício de memória que faz parte das funções da comissão. Queremos sensibilizar, sobretudo as novas gerações de brasileiros, para que saibam o que aconteceu aqui, e para que não aconteça nunca mais".
 
As lembranças da tortura ficaram na memória de Caldas, que reconheceu a localização de uma sala e de uma escada, apesar das reformas que o local sofreu. "Não consegui dormir esta noite, pela tensão acumulada por voltar a este local, que é o pior em que já estive nos meus 72 anos de vida. Há 40 anos atrás fui trazido duas vezes para cá, em ambas encapuzado, e fiquei meses preso sem nenhuma comunicação e sendo torturado. Hoje quando entrei verifiquei que as estruturas de salas de tortura sofreram pequenas modificações, mas continuam lá. Reconheci o local da antiga 'sala roxa' e uma escadinha que tinha no prédio onde éramos torturados", relatou.
 
A comitiva que visitou as dependências do batalhão foi formada, ainda, pelo presidente e pelo vice-presidente da Subcomissão da Verdade Memória e Justiça do Senado, senadores João Capiberibe (PSB/AP) e Randolfe Rodrigues (Psol/AP); pela presidente da Subcomissão da Memória, Justiça e Verdade da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara, deputada Luíza Erundina (PSB/SP); pela integrante da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos deputada Jandira Feghali; e por outros dois integrantes da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, que com Wadih representavam também a Comissão Nacional da Verdade: os advogados Marcelo Cerqueira e Nadine Borges.
 
Durante a visita, manifestantes do grupo Tortura Nunca Mais e do Levante Popular da Juventude realizaram um protesto em frente ao quartel reivindicando a reabertura dos arquivos da época da ditadura militar e a punição para os torturadores que agiram em nome do Estado. A visita da Comissão da Verdade ao local já havia sido adiada duas vezes, uma delas em função do veto à presença da deputada Luiza Erundina - que é autora do Projeto de Lei 573/11, que prevê a revisão da Lei de Anistia.
 
"Durante a visita, os militares fizeram um relato da história das Forças Armadas. Porém, não falaram do período da ditadura. É como se quisessem apagar essa época da memória nacional", criticou Erundina. Para o senador Randolfe Rodrigues, é preciso enfrentar a verdade histórica. "Não se pode virar uma página que ainda não foi lida. Essa página da história brasileira precisa ser lida para que possa haver reconciliação de fato", argumentou.
 
Na entrada da comitiva no quartel, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP/RJ) e o senador Randolfe Rodrigues entraram em conflito, e o deputado foi acusado de dar um soco na barriga de Randolfe. O senador, no entanto, afirmou que não fará boletim de ocorrência. Bolsonaro nega a agressão. A briga se deu após Bolsonaro, que não fazia parte da comitiva, querer entrar no prédio e ser barrado por integrantes da comitiva.
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