A Comissão Nacional da Verdade recebeu ontem, em ato que relembrava a greve geral de 21 de julho de 1983, relatório das centrais sindicais com denúncias de colaboração de 12 empresas públicas e privadas com militares no período da ditadura. Para obter mais informações sobre esse suposto auxílio que grandes companhias teriam dado aos ministérios do Exército e da Aeronáutica, a comissão solicitou ao Ministério do Trabalho mais documentos sobre a relação entre empresas, funcionários e militares. As empresas tinham uma lista negra com os nomes de pessoas que participavam de greves, sindicatos, panfletagens. O trabalhador que estava nessa lista não conseguia arrumar emprego Luiz Carlos Prates membro do Conlutas A comissão analisa como responsabilizar as companhias material e simbolicamente caso fique constatado que elas de fato colaboraram com agentes da repressão. A coordenadora da comissão, Rosa Cardoso, disse que há indícios de que isso aconteceu, mas é preciso mais apuração. Segundo ela, o Ministério do Trabalho tem um importante acervo de documentos sobre o assunto, e, por isso, a comissão já solicitou informações à pasta. O ministério, no entanto, ainda não se pronunciou sobre o pedido. "O acervo do ministério já havia sido levantado minimamente pelo Arquivo Nacional, mas ainda não tivemos acesso. Esse material que está no Ministério do Trabalho conta como foi a intervenção nos sindicatos. Hlá um levantamento de quantos sindicatos sofreram intervenção num primeiro momento, das lideranças que foram cassadas, das políticas desenvolvidas de repressão e perseguição aos trabalhadores. Há indicação de nomes de sindicalistas que foram perseguidos e de pessoas que não deviam encontrar emprego, pois foram rotuladas como subversivas", conta Rosa. Lista negras Segundo o sindicato Conlutas, grandes empresas privadas e públicas cederam informações sobre funcionários ligados a movimentos de esquerda, a "facções comunistas" e a sindicatos para o Exército, a Aeronáutica e o Departamento de Ordem e Política Social (Dops) durante a ditadura. "As empresas tinham uma lista negra com os nomes de pessoas que participavam de greves, sindicatos, panfletagens. O trabalhador que estava nessa lista não conseguia arrumar emprego. Temos documentos que mostram que empresas se reuniam com o Ministério da Aeronáutica dentro de uma fábrica em São Paulo", disse Luiz Carlos Prates, do Conlutas.