08/08/2017 - 12:57 | última atualização em 08/08/2017 - 15:29

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Comissão para apurar verdade sobre escravidão toma posse

redação da Tribuna do Advogado

Foto: Bruno Marins  |   Clique para ampliar
Uma grande festa ao som de berimbaus, com dança afro e a presença de outras referências culturais da matriz africana deu o tom da cerimônia de posse da Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, realizada no Plenário da OAB/RJ na noite desta segunda-feira, dia 7 de agosto.
 
Focando na história invisibilizada do povo negro no Brasil ao longo de tantos séculos, a cerimônia também foi marcada por uma encenação contando a vida de Luiz Gama, nascido em Salvador em 1930 filho de mãe negra e pai branco e feito escravo pelo próprio pai. Gama foi um autoditada e conquistou judicialmente a própria liberdade, passando a atuar na advocacia em prol da causa emancipacionista dos negros. Considerado por muitos “o maior abolicionista do Brasil”, foi reconhecido oficialmente como advogado 133 anos após sua morte, em 2015, pelo Conselho Federal.
 
Ilê Omi Ojuaro Adailton Moreira, filho biológico de Mãe Beata de Yemanjá, frisou o resgate dessa história em seu discurso: “Não é só a religiosidade, mas a cultura, a identidade, são valores ancestrais que o continente africano lega a todos nós e que muitas vezes os mecanismos do racismo nos tira, nos coloca no reverso dessa moeda. A gente tem que, antes de tudo, buscar esses valores,  o conceito ancestral de que eu só existo porque alguém antes de mim existiu”.
 
Foto: Bruno Marins   |   Clique para ampliar
Ele lembrou como a cultura, a língua, a religião, foi apagada do povo negro no violento processo da escravidão: “Nós fomos retirados do continente africano em uma das piores situações de violência que a pessoa humana pode ser submetida. E hoje devemos abraçar nossa identidade, não só o que chamamos de religiosidade, mas todo o espaço de saber e fazer cultural”.
 
Secretaria Municipal de Cultura do RTio de Janeiro, Nilcemar Nogueira contou do projeto da pasta de criar um museu que conte a história do povo negro e do simbolismo que é, para ela, estar a frente da secretaria. “Só nós sabemos o quanto custa para um negro estar ocupando um cargo de primeiro escalão em um governo”.
 
Ela criticou o racismo estrutural que a faz esbarrar em diversas barreiras para executar o projeto, entre elas, a ideia de dar a representantes negros o protagonismo político nesse movimento que conta sua própria história. “Ao olhar para os nossos equipamentos culturais, só posso confirmar que a nossa história, hoje, não está contada em lugar nenhum”, observou, explicando que a proposta é dar um caráter moderno ao espaço, em que ele possa, além de trazer informações, servir como um local para capacitação do povo negro.
 
Diretora de Igualdade Racial da OAB/RJ, Ivone Caetano trouxe a tona sua preocupação com o momento atual de crise e radicalismos no país: “É um momento com prejuízos para toda a sociedade, mas, sempre, com muito mais para o povo negro. E é muito importante que a OAB, como defensora da cidadania, esteja nessa causa, pois a cidadania do povo negro até hoje não é vivida em sua integridade”.
 
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A mesa, presidida pelo presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, Humberto Adami, teve também a presença dos membros da comissão Silvana Cristina de Oliveira Niemczewski e Daniel Dias; do procurador geral da Seccional, Fabio Nogueira, do coordenador do Centro de Pesquisa e Documentação da OAB/RJ, Aderson Bussinger e de representantes de universidades.
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