29/10/2014 - 10:33

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Brasil cai em ranking de igualdade de gênero

jornal O Globo

A baixa participação de brasileiras na economia e na política levou o Brasil a cair nove posições em ranking de igualdade de gênero divulgado ontem pelo Fórum Econômico Mundial. Segundo o estudo Global Gender Report 2014 o país ficou na 71ª posição em um total de 142 nações analisadas. No relatório do ano passado, o país figurava no 62ª lugar. O recuo interrompe uma escalada brasileira na tabela desde 2010, quando ocupava o 85ª lugar entre 135 países. O país ficou com 0,694 pontos, numa escala em que o 1 é a igualdade máxima de gênero.
 
A Islândia aparece no relatório como o país mais igualitário do mundo, seguida de perto por Finlândia, Noruega e Suécia. Argentina (31ª), Peru (45ª), Colômbia (53ª), Bolívia (58ª) e Chile (66ª) são alguns dos países também à frente do Brasil. Na outra ponta do ranking, o Iêmen é o mais desigual. O Paquistão figura na penúltima posição, e o Chade, na penúltima.
 
O índice leva em consideração quatro variáveis: participação e oportunidades econômicas (questões salariais e condições trabalhistas), poderio político (representatividade de homens e mulheres nas diferentes instituições públicas nacionais), desempenho educacional (alfabetização, número de matrículas) e saúde (taxa de natalidade por sexo e expectativa de vida). Os resultados do Brasil nas duas primeiras dimensões, na qual ocupa 81ª e 74ª posição, respectivamente, levaram à piora de desempenho.
 
No país, segundo o estudo, a participação do sexo feminino em posições de chefia é quase metade da masculina. Comparando apenas a diferença entre salários, nós ficamos lá embaixo da tabela, na 124ª posição. O país que reelegeu pela primeira vez uma mulher para a Números Presidência da República tem uma das piores representações do gênero feminino no Congresso Nacional: uma parlamentar para cada 10 homens, aproximadamente.
 
Igualdade em saúde e educação
 
Já nos itens saúde e educação, o Fórum Econômico Mundial colocou o Brasil ao lado de nações desenvolvidas com absoluta igualdade. O relatório destaca: "O Brasil está 6% mais perto de acabar com seu hiato de gênero em relação a 2006. No período de 2006 a 2014, o país registrou o maior aumento da região em termos de matrículas no ensino primário"

Para a coordenadora Nacional da União Brasileira de Mulheres (UBM) e doutora em educação, Lúcia Helena Rincón, o Brasil tem tido avanços tímidos na redução da desigualdade de gênero. "O número de mulheres em cargos de chefia vem aumentando, mas a maior diferença de salários é justamente nos cargos mais altos. Além disso, o aparato de Estado e das empresas para assumir seu papel na reprodução social e humana ainda tem sido muito tímido. Na lei, já conseguimos que as empresas sejam obrigadas a ter creche e lactário, mas isso ainda não ocorre na prática. A cultura da igualdade e da solidariedade ainda é bastante frágil na nossa sociedade", avalia que a aguardada reforma política brasileira preveja sistema de listas alternadas de mulheres e homens na disputa eleitoral.
 
Coordenadora do Grupo de Pesquisa Gênero, Sexualidade e Sexo da Faculdade de Educação da UFMG, Adia Betsaida Martins Teixeira diz que é preciso também estimular desde cedo que mulheres tenham ambições políticas:

"Algumas mulheres não se veem nesses lugares. As que estão no poder vêm de uma classe alta ou, por algum tipo de sorte, tiveram contato com homens que as ajudaram a chegar lá. Precisamos mudar instituições e ensinar as meninas a ter o desejo de estar nesses lugares".
 
Os autores do estudo disseram que, na média global de 2014, mais de 96% da diferença de saúde, 94% da diferença de escolaridade e 60% da diferença na participação econômica haviam sido superadas desde o primeiro relatório, publicado em 2006. Mas o grupo de especialistas advertiu: "nenhum país no mundo alcançou a plena igualdade de gênero."

De acordo com o relatório, levará 81 anos para a diferença entre homens e mulheres em todo o mundo ser superada, se o progresso mantiver o ritmo atual. "O relatório continua a destacar a forte correlação entre a diferença de gênero de um país e seu desempenho econômico" escreveram eles, acrescentando:
 
"Como as mulheres representam metade da base potencial de talentos de um país, a competitividade de uma nação a longo prazo depende significativamente de como se educa e se utiliza a mão de obra feminina".
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