22/07/2011 - 16:06

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Artigo Wadih Damous: A morte de Juan

A morte de Juan


Wadih Damous*

Ao que indicam as últimas notícias, pelo menos a morte do menino Juan Moraes, há um mês, não entrará para o escandaloso número de homicídios não esclarecidos - impunes, portanto. Foram 60 mil na última década, segundo levantamento feito pelo Ministério Público estadual. A taxa de elucidação dos crimes contra a vida estaria em 11%, e a de punição, em 8%, segundo outra pesquisa, da Uerj.

Ao longo desses 30 dias, a família de Juan, a imprensa, as entidades civis e a opinião pública, pelas redes sociais na Internet, exerceram vigorosamente o direito cidadão de cobrar a apuração do crime. A polícia viu-se obrigada a investigar melhor e desmontar não só a versão dos policiais militares envolvidos - de que teria havido tiroteio com bandidos - como a da perita que identificou como sendo de menina o corpo encontrado num valão.

O secretário Beltrame reconheceu os erros cometidos, mas a Corregedoria da PM teve papel pífio.

Os policiais acusados pelo covarde assassinato da criança têm nada menos que 34 autos de resistência - mortes em supostos confrontos que frequentemente disfarçam execuções - sob sua responsabilidade. Juan foi mesmo, comprovou-se agora, atingido por uma bala de fuzil disparada por um PM e teve seu corpo levado para longe, revelou a perícia e também o valioso testemunho de um morador.

A chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, determinou que, a partir do caso Juan, os autos de resistência também serão investigados como homicídios, e não apenas registrados como ocorrências. Não se sabe por que razão até então era assim.

Mas, pelo menos, a morte de Juan não deverá entrar para as estatísticas da impunidade que alimenta a violência. Sua família poderá ter até esperança de que se faça justiça.


*Wadih Damous é presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Rio de Janeiro

Artigo publicado no jornal O Dia, 22 de julho de 2011

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