Deixemos o panetone fora Wadih Damous* O escândalo de corrupção envolvendo a mais alta autoridade pública do Distrito Federal não deixa hipótese de dúvida sobre a resposta urgente que deve ser dada: o seu impedimento de continuar a governar a capital da República. Ou a renúncia. As cenas explícitas de corrupção, gravadas com autorização judicial, são graves demais. Extinguiram-se as condições políticas e morais de o governador José Roberto Arruda permanecer no poder. Ele deve ser afastado pela Câmara Legislativa até a decisão final da Justiça porque há risco real de contaminação de toda a administração. Há mostras disso bem evidentes, exibidas pela imprensa, como a mobilização nada espontânea de servidores "liberados" do serviço para irem a um ato de apoio ao governador, montado por seus correligionários. E a absurda violência da Polícia Militar contra estudantes, resultando em pessoas feridas e pisoteadas por cavalos - parecia até que havíamos voltado à ditadura. A sociedade, cada vez mais descrente da punição de corruptos, clama por justiça. E precisa receber das autoridades exemplos inequívocos de respeito à distinção do que é público e do que é privado. E não serão medidas paliativas, como novas e mais duras leis para crimes de corrupção, o melhor remédio para restaurar nossa confiança. Projetos de lei tratando do assunto há vários no Congresso. Acabar com a impunidade desses crimes - especialmente quando envolvem agentes públicos que desviam dinheiro público - agilizando o julgamento dos processos e punindo exemplarmente os culpados parece nos o melhor caminho para restaurar a credibilidade na Justiça. Deixemos os pobres panetones fora dessa história. *Wadih Damous é presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Rio de Janeiro Artigo publicado no jornal O Dia, 15 de dezembro de 2009