Os elefantes de Uganda José Carlos Tórtima* O canal NET-GEO, de televisão, apresentou interessante documentário sobre elefantes africanos de Uganda, capaz de levar a uma reflexão sobre o tema da violência. O filme aborda o estranho comportamento de algumas manadas de jovens elefantes daquela região que, sem explicação aparente, passaram a ter conduta errática e agressiva, perseguindo e matando outros animais, notadamente rinocerontes, com os quais a espécie sempre convivera pacificamente. Após as mortes, até então misteriosas, de vários destes paquidermes, cujos corpos foram encontrados com profundas perfurações no pescoço e no abdome, especialistas, auxiliados pelas autoridades locais, conseguiram identificar, para espanto do restante da comunidade científica, elefantes como os assassinos, cujas poderosas presas eram as responsáveis pelos ferimentos fatais. Restava descobrir o porquê de estarem aquelas manadas se portando como verdadeiras gangues de homicidas, algo até então inédito no reino animal. Ao fazer prospecção no tempo, os pesquisadores localizaram a mão do homem na raiz do problema. Aqueles elefantes eram sobreviventes enlouquecidos de um grande massacre sofrido por seus pais, ordenado pelo ditador de Uganda, Idi Amim, quando ainda eram filhotes. Amim mandara dizimar os animais para apossar sede suas valiosas presas de marfim. A associação da brutal violência com a perda dos referenciais familiares teria desordenado a estrutura psíquica dos jovens elefantes, levando-os àquele comportamento violento na idade adulta. Um fenômeno sobre o qual devemos refletir. Não é mesmo? José Carlos Tórtima é presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB/RJ. Artigo publicado no jornal O Dia, em 14 de outubro de 2009.