09/04/2010 - 16:06

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Artigo: Críticas ao voto obrigatório - Felipe Santa Cruz

Críticas ao voto obrigatório


*Felipe Santa Cruz

Não há razões aceitáveis para que sobreviva, em um país de democracia consolidada como o nosso, o modelo arcaico que obriga o cidadão indignado coma política e com os políticos a sair de casa para votar em dia de eleição. Ele é coercitivamente instado a comparecer perante a sua zona eleitoral.

Ora, o procedimento que hoje se exige do eleitor brasileiro, eivado de um espírito de politização compulsória, afronta a própria postura política individual de protesto e abstenção, que também deve ser merecedora da liberdade de manifestação. Talvez seja em virtude do voto obrigatório que tenhamos o grande número de votos nulos e brancos em nossos pleitos. Ou que alguns optem por pagar a multa para não ser punido, por exemplo, com a proibição de sair do Brasil, devido a não emissão de passaporte.

Somos maduros o suficiente para saber que "seduzir" o eleitor para a necessidade do voto, do comparecimento, é parte do processo democrático. E que o voto obrigatório, sem convicção política, é fruto da falta de contato real do nosso processo político coma vida da população. Ou escudo para a manutenção da distância.

É preciso aceitar o fato de que não é por ignorância dos eleitores que as mensagens políticas não são compreendidas. O que impede sua assimilação é a incapacidade dos políticos em despertar a vontade de comparecer às urnas, a consciência da necessidade do engajamento em suas bandeiras e do acompanhamento do seu desempenho no período pós-eleitoral. Da forma atual, cartorial e coercitiva, votar é fato sem qualquer importância, um mero exercício rotineiro, movido por medo de multas e pela desinformação. Este voto - fácil e burocrático - é um parente do voto comprado


*Felipe Santa Cruz é presidente da Caarj

Artigo publicado no jornal O Dia, 9 de abril de 2010

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