15/03/2018 - 16:12 | última atualização em 15/03/2018 - 16:22

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Para Comissão, morte de Marielle revela resquícios da escravidão

redação da Tribuna do Advogado

Nota oficial
 
O assassinato frio, covarde e cruel da vereadora Marielle Franco (PSOL) na noite de ontem, 14 de março, na região central do Rio de Janeiro, revela mais uma página do passado que o Brasil insiste em não se defrontar: os resquícios da escravidão negra. Marielle combateu e vocalizou as demandas e necessidades da população pobre de periferias como a sua de origem, a Maré. Pobre e que, em sua maioria, é negra.
 
Populações brasileiras submetidas à ausência do Estado democrático de Direito. Mais: num momento em que a cúpula política do Estado do Rio de Janeiro encontra-se encarcerada por corrupção e desvios de verba pública, quem sofre a maior violência física e fatal, sem nada ter com essas práticas, é uma mulher negra que teve como bandeira a luta dos direitos humanos, dos direitos sociais e da integração da população negra.
 
Os tiros desferidos contra a vereadora Marielle e seu motorista, Anderson Gomes, repercutem no mundo inteiro, mas devem ser lembrados pelas lutas de suas vítimas. 

Genocídio da juventude negra, igualdade de gênero e direitos LGBTI, empoderamento da mulher negra, inclusão dos afrodescendentes, em todos os níveis de educação, política e mercado de trabalho, fazem parte do eixo da reparação da escravidão negra. Assim, no momento em que nos somamos na dor de mais uma vítima da violência cotidiana, durante a celebração da Década Internacional de Afrodescendentes, é importante relembrar que esse processo repete àquele experimentado pelos que sucumbiram no Cais do Valongo - hoje elevado a Patrimônio Mundial da Unesco - próximo ao local do extermínio da vereadora carioca.
 
As comissões da Verdade da Escravidão Negra do Conselho Federal da OAB e da Seccional do Rio de Janeiro, com dor e luto pelo trágico fim dessa valorosa mulher negra, reafirmam seus compromissos de combate à discriminação racial e ao racismo, bem como a descoberta de heróis e heroínas do passado, e do presente, aos quais Marielle se junta. 
 
Rio de Janeiro, 15 de março de 2018
Humberto Adami
Presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra do Conselho Federal da OAB; e da Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra da OAB/RJ; Representante Titular do Conselho Federal da OAB na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo
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